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4 de julho de 2021

Crônica da impaciência

crônica da impaciência

Podes esperar sentado. É uma coisa que sempre ouvia quando criança. A proximidade com o litoral catarinense trazia versões mais interessantes como “mofasse com a pomba na balaia”. É possívelmente a melhor expressão em manezês, o idioma de Florianópolis e todo o litoral. Seja com a pomba na balaia, ou sentado, esperar sempre foi uma coisa negativa para mim.

A ansiedade é inimiga da paciência e o cronista é inimigo das regras estúpidas, criadas sem o bom senso. Tenho uma relação confusa, tóxica com os prazos. De um lado, uma dificuldade imensa em aceitar qualquer tipo de atraso, que seja por um minuto, um segundo, por outro uma ansiedade que gera procrastinação. Não há tortura mental maior para mim que não cumprir um prazo. Tenho vontade de me chicotear quando isso ocorre e não trata-se de uma raridade.

Virei jornalista por isso. Profissão amaldiçoada, em que tudo é para ontem. A gente até tinha uns prazos, mesmo curtos, na época do papel. A internet veio e hoje você começa a escrever um texto e ele já está atraso. O prazo é sempre ontem. O que você começa, você tem que terminar o mais rápido possível.

Aí o sujeito decide fazer mestrado e depois um doutorado. O Ministério da Saúde Adverte: doutorado faz mal a saúde mental. Como assim, você vai começar um trabalho e vai acabar ele somente depois de quatro anos (ou mais)? E não adianta dividir em capítulos, aquela sensação de entregar algo incompleto sempre haverá.

Mas não, caro leitor, não é o doutorado o motivo da minha atual impaciência. Na verdade, ele até me ajuda a me acalmar, me organizar melhor com longos prazos. A minha impaciência explode com falsas promessas. Vai ficar pronto em 30 minutos e não fica. Vais receber a mensagem em um dia e não recebes.

Não há nada mais enlouquecedor que o silêncio. Não há nada que tire mais a minha paciência, que faça a minha anseidade estourar que é ignorar um pedido, adiar uma resposta. Fala, anuncia uma coisa que não pode cumprir e depois some quando é cobrado. Eu sou aquele chato que exige, que joga o prazo vencido na cara dos atrasados.

A burocracia é a chave da minha raiva. O mundo só será feliz quando o último burocrata for enforcado com as tripas do último lerdo. Pessoas lentas, que vivem em slow-motion, que desejam que todos adaptem-se a um estilo de vida de tartaruga.

Aprender a ter paciência é um exercício diário, sofrido, que gera evolução, mas em longo prazo. Buscar alternativas a raiva gerada pela impaciência é missão contínua. Não me chamem para ver uma série, porque já sei que não funciona. Por enquanto, as técnicas mais eficientes são a música e escrever. Mesmo que seja uma crónica ruim sobre a própria impaciência.

Eu preciso…

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