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Ainda que pese as denúncias de crime eleitoral por uso de caixa 2 no escândalo do impulsionamento de mensagens por Whatsapp, a extrema-direita elegeu um presidente da República no Brasil pela primeira vez de forma democrática. As denúncias precisam ser investigadas e, se comprovadas deve haver punição aos responsáveis. Mas atribuir somente a vitória de Jair Bolsonaro a indústria de fake news é enganar a si mesmo. O Brasil vive uma onda conservadora que começou a ser gestada na década passada, se revelou publicamente a partir de 2013 e já mostrou do que era capaz nas eleições municipais de 2016. Ninguém que acompanha a política no Brasil pode ficar surpreso com a vitória de Bolsonaro.
A extrema-direita chega ao poder fazendo que aquilo que a centro-direita do PSDB não conseguia fazer: criar sua força política de baixo, com bases fortes e penetração nas camadas mais populares. O coxismo tucano não ultrapassava as altas classes, São Paulo, Sul e Centro-Oeste. O bolsonarismo atacou por duas frentes: tomou o lugar dos tucanos nesses eleitorados e ainda invadiu as comunidades e periferias do Sudeste e Norte, muito devido a força das igrejas neopentecostais. Não por acaso o PSDB é, talvez, o maior derrotado desta eleição.
Mas a esquerda não pode fingir que um ponto decisivo para o sucesso de Bolsonaro não existe: o antilulismo. Esse movimento surgiu nos anos 80 e ganhou expressão nas eleições de 1989, quando o ainda radical Lula foi ao segundo turno. A eleição de Lula em 2002 e o sucesso de sua gestão apagaram a força do antilulismo, mas ele nunca morreu. Seja por motivos ideológicos, por preconceito ou apenas por influência da imprensa, sempre houve uma parcela da população com asco ao ex-presidente.
O PT apostou que o desastre do governo Temer e a perseguição desigual a Lula na Operação Lava Jato ressuscitariam o lulismo, que havia perdido força a partir da crise no governo Dilma em 2015. Em partes, acertou pois colocou o ex-presidente no centro das conversas sobre o Brasil. Mas ao transformar Lula em um mito, no pai dos pobres, no único capaz de resolver os pr0blemas do país, o PT acabou turbinando o antilulismo.
Lula não se comportou como um líder a partir do impeachment. A prioridade passou ser apenas a eleição. Não havia discussões, propostas para liderar as esquerdas, liderar o país. O PT estava convicto que bastava ele disputar que ele ganhava. Quando veio a condenação e depois a prisão, a prioridade passou a ser apenas libertá-lo, o resto do país que esperasse.
Há, de fato, muitos adoradores de Lula no país. Mas isso não resolve uma eleição. Todos sabiam que o simples apoio de Lula daria forças para um candidato chegar no segundo turno. Mas o PT insistiu no ex-presidente até o último minuto. No primeiro turno, Haddad não foi o candidato, foi um mero POSTE de Lula. As qualidades do professor das USP e ex-prefeito de São Paulo só apareceram no segundo turno, quando era tarde demais.
Bolsonaro vai continuar explorando o antilulismo, principalmente quando a situação não estiver boa para ele. A cada crise do seu govenro, algo antilula será lançado para abafar. O PT também fez isso com o antiFHCismo existente na população na década passada. A estratégia do PSL será manter Lula como vilão e Bolsonaro como o único capaz de impedir a volta dele ao poder.
Ignorar os avanços sociais no governo Lula é burrice. Ignorar a gratidão que o povo nordestino possui com o ex-presidente também. Haddad só foi ao segundo turno, porque o nordestino votou “no moço do Lula”. Sem ele, a eleição acabaria no primeiro turno e não com Ciro Gomes no segundo. Mas o mesmo lulismo que impulsionou Haddad o impediu de vencer a disputa. Por isso, é preciso ir além.
A esquerda brasileira precisa se reorganizar, formar novas lideranças. Tanto a esquerda “raiz” como o PSOL quanto os mais moderados (PSB, Rede, PDT) precisam de novas estratégias pois estamos diante de um governo de extrema-direita e não de direita. Quem assumirá o poder fará o possível para destruir todas as esquerdas.
A esquerda brasileira precisa de um PÓS-LULISMO. Precisa de lideranças que reconheçam e defendam o legado social de Lula, mas que possuam novas pautas, para o Brasil atual. O comando do PT precisa ser alterado, é preciso um diálogo maior entre os partidos de esquerda. Se o PT quer ser o líder desse movimento, ele precisa respeitar as demais siglas, algo que nunca aconteceu.
Focar em “Lula Livre” é a armadilha perfeita do bolsonarismo para deixar a esquerda ocupada e longe do eleitorado brasileiro. Se as esquerdas não querem que o segundo turno de 2022 seja Jair Bolsonaro x João Amoedo é preciso entender que o lulismo não vai acabar com o antilulismo. É preciso ir além![:]
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