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Resumir as eleições brasileira de 2018 na provável vitória de Jair Bolsonaro (PSL-RJ) é simplificar demais toda a complexidade da política brasileira. É ser ingênuo ou agir de má fé. O terremoto conservador nas eleições vai muito além da disputa presidencial. É um movimento que começou a nascer nas redes sociais da segunda metade da década passada, que passou do virtual ao real em 2013. Desde esta data a centro-esquerda brasileira está perdida. E pelos resultados dessas eleições, a centro-direita também.
Os sinais de esgotamento e desejo por renovação começaram em 2013 nos insanos protestos que começaram com o preço de uma passagem, mas que despertaram a revolta geral da população. A eleição da “turma de sempre” em 2014 mascarou um pouco, mas os sinais ficaram claros com a eleição de políticos como Marcelo Crivella (PRB), João Dória (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS) nas prefeituras do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizoente. Nomes que sempre estiveram na política, mas nunca como protagonistas. Nomes populares fora do segmento político.
A centro-esquerda não percebeu isso. A centro-direita, pelo jeito, também não. Foram poucos os nomes de renovação partindo dessas siglas em 2018. Quem inovou? PSOL, Novo e PSL. O último, puxado por um político popular, teve o melhor resultado: 52 deputados federais eleitos. Mas as movimentações de PSOL e Novo precisam ser vistas de perto.
Partidos como o PSDB não conseguiram produzir novas lideranças. João Dória, prefeito de São Paulo, não representa o partido, de fato. Talvez Eduardo Leite, ex-prefeito de Pelotas (RS) e provável novo governador do Rio Grande do Sul seja um nome desses. Em Santa Catarina, o partido tinha o nome de Napoleão Bernardes, ex-prefeito de Blumenau, de 36 anos, com chances reais de se eleger senador em uma disputa cheia de velhos e cansados nomes. Mas a sigla preferiu colocá-lo como vice de Mauro Mariani (MDB) que nem ao segundo turno foi. Queimou uma ficha
O PT conseguiu se sair melhor que o PSDB graças ao desempenho extraordinário no Nordeste. Rui Costa e Jacques Wagner na Bahia, Welligton Dias no Piauí e Camilo Santana no Ceará apontam o partido para uma nova direção. Wagner, aliás, mostrou como se faz. Seu escolhido para sucessão em 2014, Rui Costa, ganhou tão fácil na reeleição esse ano que se tornou um nome fortíssimo do país em nível nacional. A sigla se renova no Nordeste e se enfraquece no Sul/Sudeste. Por que? Porque apostou nas velhas caras de sempre.
A eminente derrota de Fernando Haddad (PT) no segundo turno deve ser observada pelos votos na periferia. A centro-esquerda perdeu a hegemonia que tinha. Antes, o PT enfrentava os tucanos, que simplesmente não sabiam como conversar com essas comunidades. Sem adversários, o petismo se garantiu com bons resultados em Minas Gerais e Rio de Janeiro. Mas não soube cuida direito desse eleitorado urbano, de classe social mais baixa. A extrema-direita entrou em guetos que os tucanos jamais conseguiram entrar. Como? Usando a questão da segurança/violência e com o impulso de igrejas evangélicas neopentecostais. A vitória do bispo da Igreja Universal Marcelo Crivella (PRB) contra Marcelo Freixo (PSOL) no Rio de Janeiro era um alerta.
Brincando com a famosa frase de James Carville, estrategista de Bill Clinton nas eleições americanas de 1992, eu pergunto: cadê a economia no segundo turno das eleições, PT? No primeiro turno, todos os candidatos atacaram Bolsonaro por questões morais/democráticas. O eleitorado dele ignorou e ele só cresceu nas pesquisas. Desde o início do ano vários especialistas falam que a melhor forma de atacar o candidato do PSL é falando em economia, pois quando o assunto é questões morais, as frases prontas dele surtem efeito positivo. O jornalista Reinaldo Azevedo (RedeTV/Folha/Band News FM) mostrou o caminho em agosto, quando perguntou a Bolsonaro sobre déficit público em um debate. Mas o PT praticamente não aproveitou isso. Falar que não tem projetos é insuficiente, era preciso puxar todo o segundo turno para a questão econômica.
O movimento #EleNão foi importante, interessante, mas jamais poderia ter sido o foco das candidaturas adversárias de Bolsonaro. O foco tinha que ser economia, enquanto a sociedade civil (no caso, as mulheres) desconstruiam o candidato pela questão democrática. Mas como diz o título desta coluna, a centro-esquerda e a centro-direita estão perdidas desde 2013.
Uma análise pós-eleitoral já está sendo preparada, já considerando a vitória de Bolsonaro. O que pode ser o governo do PSL, como PT, PDT e PSB se comportarão de um lado e como PSDB se comportará do outro estarão na pauta.[:]
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