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Ataques a Freixo provam que a esquerda continua perdida

Nos últimos dois meses, nós tivemos uma aprovação da reforma da previdência que retira direitos importantes dos trabalhadores. O presidente demitiu o presidente do INPE por discordar dos números apresentados. Ele ainda decidiu indicar o filho para a embaixada nos Estados Unidos, atacou a honra do presidente da OAB, completando sua agenda de atacar sistematicamente todas as instituições que não se curvam diante dele.

E as esquerdas? Continuam batendo cabeça. Se não fosse a grande imprensa (aquela mesma que perseguia o governo do PT) mostrar os absurdos do atual governo, se não fosse o centrão e, pasmem, o DEM de Rodrigo Maia colocar um freio, o bolsonarismo teria patrolado tudo em Brasília. Derrotada em 2018, as esquerdas continuam se matando…

O motim da vez é a participação do deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) em um quadro do canal Quebrando o Tabu, onde ele dialogou com a deputada Janaina Pascoal (PSL-SP), a bolsonarista que foi uma das responsáveis pelo impeachment de Dilma Rousseff.

Janaína e Freixo, o vídeo de discórdia

Diálogo com o bolsonarismo

Freixo passou a ser atacado nas redes sociais por eleitores de esquerda, não apenas do PT e do PCO, o nanico da extrema-esquerda que funciona como um pitbull do petismo, mas também de simpatizantes do PSOL. Motivo: Freixo foi “frouxo” ao aceitar participar do programa com uma deputada bolsonarista.

A opinião dos críticos é que não deve haver diálogo com o bolsonarismo, ainda mais com uma deputada que foi a responsável pelo impeachment de Dilma Rousseff. Petistas ainda reclamaram do fato que ele não criticá-la na hora quando a bolsonarista mencionava o impeachment. Para eles, Freixo tinha a obrigação de dizer que “foi um golpe”.

Mas a principal munição usada pelos críticos contra Freixo foi um tuíte de Janaína no outro dia:

Por que Freixo não errou

Os eleitores de esquerda têm razão em ficar indignados com a deputada do PSL, que na frente de Freixo tentou amenizar o discurso, mas no outro dia vai ao Twitter mostrar que não sabe respeitar os grupos de esquerda. Ela foi hipócrita em discursar por diálogo em um dia e promover o radicalismo no outro.

Pela incoerência da deputada que finge ser uma voz sensata no bolsonarismo, mas não é, o deputado Marcelo Freixo acertou em aceitar o convite do Quebrando o Tabu. Justifico em tópicos:

  • Política é a arte do diálogo. Quem tem um mandato de deputado tem a obrigação de dialogar com todas as partes. Ou ao menos, tentar isso.
  • Freixo não fugiu dos temas durante o programa, mostrou as incoerências do PSL e ainda cutucou diversas vezes a deputada mostrando que a uma moderação que ela diz ter é incompatível com o presidente.
  • Janaína costuma argumentar que a esquerda não dialoga. Que age de forma autoritária nos discursos, na imprensa, universidades. Freixo provou que não ao ir no programa. O tuíte no outro dia mostra que quem não sabe dialogar é ela.
  • É preciso dialogar além da bolha da esquerda. Uma parte considerável da população não se identifica como direita ou esquerda. É o grupo que votou no PT entre 2002 e 2014 e que migrou para o bolsonarismo em 2018 por raiva do PT. Um espaço como o Quebrando o Tabu não pode ser ignorado.

Considerações finais

As esquerdas saíram derrotadas em 2018 e a ficha ainda não caiu. Muitos analistas já apontam que a preocupação excessiva de Bolsonaro em agradar o seu núcleo mais fiel é o responsável pela baixa aprovação do presidente.

As esquerdas não podem cometer o mesmo erro. É preciso dialogar além da bolha. É preciso falar em Segurança Pública, dialogar com militares, evangélicos. É preciso dialogar com movimentos de direita. Dialogar não significa apoiar, fazer acordos. Dialogar significa levar a disputa política de volta a um nível civilizado.

Uma prova que o diálogo entre direita e esquerda é possível, que é possível fazer um debate inteligente, sem ódio, é o que o Canal My News cricou recentemente (muito melhor que o quadro do Quebrando o Tabu, que foca na polêmica pela polêmica).

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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