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Conheça os mapas dos desertos de notícias

Os desertos de notícias atingem 7 milhões de venezuelanos, segundo levantamento do Instituto de Imprensa e Sociedade do país. Os mapas dos desertos de notícias são a face mais fácil de entender a crise do jornalismo local, um tema cada vez mais discutido nos meios de comunicação e no ambiente acadêmico.

Este blog trata dos desertos de notícias há três anos, incluindo o mapeamento de Portugal, de setembro de 2020. Uma versão simples, porém, o primeiro passo do relatório publicado ano passado pelo Labcom. Desertos de notícias são localidades sem meios de comunicação local ou com um meios que não produzem notícias locais ou produzem de forma muito insatisfatória (ex. um jornal somente impresso e mensal).

Este fenômeno é uma consequência da crise do jornalismo, especialmente em pequenas localidades. Em primeiro lugar, porque muitos jornais e rádios locais não conseguiram se adaptar a internet, perderam muita publicidade para os formatos digitais. Por fim, muitos desses meios fecharam as portas ou, no caso de algumas rádios, fecharam a redação e passaram a transmitir apenas música e notícias nacionais de emissoras nos quais são afiliadas.

Jornais e rádios fecham e as dificuldades para criar novos meios de comunicação são ainda maiores nessas localidades. A maior parte da literatura e das reportagens sobre inovação no jornalismo dizem respeito a projetos nacionais ou internacionais, localizados em grandes centros urbanos. Estratégias como o uso de publieditoriais podem fazer sentido em São Paulo ou Lisboa, mas nos pequenos vilarejos, a abertura de um supermercado não é um publieditorial, é notícia mesmo. Possui interesse público e, portanto, as chances de rentabilização são reduzidas.

Crise dos jornais fez emergir o fenômeno dos desertos de notícias

Os mapas dos desertos de notícias

Paralela às discussões sobre como reinventar o jornalismo local, pesquisadores e entidades ligadas aos jornais começaram a mapear as localidades onde não há jornalismo. Primeiramente, os Estados Unidos estudaram o problema, com publicaram um relatório em 2016. Em seguida, foi a vez do Brasil fazer o estudo, em 2017. Abaixo, uma lista dos países que já fizeram os mapas.

Estados Unidos

A pesquisadora Penelope Abernathy lidera o projeto, que lançou seu primeiro mapa em 2016. O mais recente foi publicado em 2020. No caso americano, não foram analisadas as cidades sem mídia e sim os condados, que podem reunir mais de uma cidade, no caso de pequenos municípios, ou distritos de grandes metrópoles.

Em síntese, o relatório americano mostrou que os 2845 condados americanos, 200 não tinham nenhum jornal e a metade tinha apenas um meio local. O problema se concentra no meio do país, distante das costas.

RELATÓRIO | SITE DO PROJETO


Brazil

A iniciativa é do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), que já publicou 4 relatórios entre 2017 e 2021. No entanto, vamos ter uma nova publicação ainda neste ano.

Segundo dados de 2021, 53% dos municípios estão nos desertos de notícias, abrangendo 29 milhões de pessoas. As regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas.

RELATÓRIO | SITE DO PROJETO


Portugal

Conforme dito anteriormente, o primeiro mapa foi publicado neste blog em 2020. Em 2022, o projeto MediaTrust.Lab com Labcom assumiu o estudo. O autor deste blog e oos pesquisadores Pedro Jerónimo e Luísa Torre publicaram o relatório em dezembro do ano passado.

O relatório mostra que dos 308 concelhos portugueses, 78 estão classificados como deserto ou semi-deserto. Semi-deserto, no caso, são concelhos (municípios) onde há um meio de comunicação, mas é um jornal mensal impresso ou uma rádio que não produz notícias locais.

RELATÓRIO | SITE DO PROJETO


Argentina

A iniciativa foi do Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea), que publicou em 2021 seu primeiro relatório com o mapa dos desertos de notícias no país.
Assim como em Portugal, a Argentina também trabalha com semi-desertos, com números preocupantes como os encontrados no Brasil. Dos 560 departamentos argentinos, 268 são desertos e 141 semi-desertos.

RELATÓRIO | SITE DO PROJETO


Colômbia

A iniciativa é do Centro de Estudos de Liberdade de Expressão do Fórum para a Liberdade de Imprensa. Sob coordenação do pesquisador Jonathan Bock, o centro publicou seu estudo em 2019 pela primeira vez, chamado Cartografias da Informação.
De acordo com o estudo, dos 1,1 mil municípios, 353 estão no desertos de notícias e 313 estão em semi-deserto, categoria com critérios semelhantes aos de Portugal.

PÁGINA DO MAPA


Turquia

Liberado pelo jornalista e pesquisador Emre Kizilkaya, o estudo da Turquia, apresentado em 2021, traz uma metodologia diferente das adotadas em outros países. Os turcos utilizaram inteligência artificial para analisarem a produção de notícias locais em todas as regiões do país.

De acordo com o estudo, as regiões de Egeu, Sudeste e Mar Negro são as que os desertos de notícias emergem com mais força. O mapa turco está classificado de acordo com a quantidade de notícias locais publicadas durante o período analisado.

PÁGINA DO ESTUDO


Venezuela

O país sul-americano possui, conforme dito no começo deste artigo, 7 milhões de pessoas vivendo em localidades classificadas como desertos de notícias ou semi-deserto, que no caso venezuelano, significa um ou dois meios apenas.

O Atlas do Silêncio, produção do Instituto de Imprensa e Sociedade, aponta que dos 7 milhões de atingidos, 5 milhões estão diretamente nos desertos de notícias (excluindo os semi).

PÁGINA DO ESTUDO


Outros estudos

O objetivo deste artigo é listar e organizar os estudos dos mapas dos desertos de notícias que ocorrem no mundo. Além dos apresentados acima, sabe-se que a Croácia estuda o caso – o país já apresentou um relatório dos meios existentes, mas sem a lista das localidades no deserto – e ainda tem o projeto #LocalMedia4Democracy, que envolve uma série de entidades europeias, que venceu um edital para mapear toda a União Europeia.

Porém, se houver mais algum país que realizou este estudo e não foi listado aqui, peço a todos que comentem este artigo com as informações. Iremos atualizar a publicação a medida que novos pesquisadores realizarem novos estudos.

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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