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Desertos de Notícias 2025 em Portugal

Há cinco anos, este blog foi o primeiro a lançar o debate sobre os desertos de notícias na Europa, com dados preliminares de Portugal. O que começou como um artigo pioneiro em 2020 evoluiu para um estudo académico em 2021 e, depois, para o primeiro relatório nacional em 2022. Agora, a segunda edição do relatório Desertos de Notícias Europa 2025: Relatório de Portugal confirma que o problema persiste, com pequenas melhorias, mas com desafios acrescidos no combate à desinformação e na garantia do direito à informação.

Em comparação com 2022, o relatório produzido pelo Labcom da Universidade da Beira Interior em 2025 regista uma redução nos desertos totais – de 54 para 45 concelhos. No entanto, os semi-desertos aumentaram significativamente, de 24 para 38. No total, 171 concelhos (55,52% do total) enfrentam algum tipo de problema de cobertura noticiosa, seja por ausência total de meios, oferta irregular ou escassez. Esta estabilidade frágil revela que, apesar dos esforços, o interior continua a ser o mais afetado.

As regiões mais afetadas do país continuam a ser as mais distantes do litoral. Agora dividido em sub-regiões ao invés de distritos, o relatório aponta a situação mais complicada nas sub-regiões do Douro, Trás-os-Montes e Alto Alentejo.

O digital consolida-se como o suporte dominante, com 409 meios online – um ligeiro aumento face a 2022. No entanto, muitos destes projetos enfrentam dificuldades de sustentabilidade e atualização irregular. Foram criados 76 novos meios digitais desde 2022, mas a qualidade e a frequência da produção noticiosa variam significativamente, especialmente em concelhos mais pequenos.

Desinformação e caminhos

Um dos alertas mais importantes do relatório é a relação direta entre a ausência de media locais e a proliferação de desinformação. Em regiões sem jornalismo de proximidade, as redes sociais tornam-se a principal fonte de informação, muitas vezes sem qualquer filtro jornalístico. Por exemplo, a presidente da ERC, Helena Sousa, afirmou recentemente mídia regional são “agentes de resistência à desinformação”. A sua ausência fragiliza a democracia local e expõe as comunidades a conteúdos não verificados.

Apesar do cenário preocupante, o relatório aponta caminhos. O jornalismo comunitário e os modelos de financiamento diversificados – como o crowdfunding e o apoio estatal – surgem como alternativas viáveis. Em regiões como o Alto Tâmega ou o Alentejo, onde o rácio de meios por habitante é mais baixo, estas soluções podem fazer a diferença entre o deserto e o oásis de notícias.

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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