Uma briga entre comentaristas da emissora de rádio e TV Jovem Pan foi assunto nas redes sociais na quarta-feira, 16 de novembro. O comentarista Rodrigo Constantino deixou o programa 3em1 no ar após ser chamado de puxa-saco do presidente Bolsonaro pelo comentarista Leonardo Grandini. Por fim, informou que exigiu da emissora que Grandini e César Calejon não participassem mais de programas com ele.
Enquanto muitos discutiam a reação de Constantino e o posicionamento radical a favor do atual presidente da emissora, eu digo: ser bolsonarista não é o maior problema da Jovem Pan. O problema é chamar o que eles produzem de jornalismo: trata-se de entretenimento político, uma espécie de “A tarde é sua” da política.
Debates entre direita e esquerda são muito comuns nas TVs americanas e aparecem com alguma regularidade nas TVs europeias. Lembramos do famoso quadro Crossfire, que a CNN tentou reproduzir no Brasil com o nome de O Grande Debate. Ou seja, a fórmula é: joga um tema da atualidade e coloca um comentarista de direita e outro de esquerda para discutir.
Isso funcionava bem antes das redes sociais ou em países onde o cenário político não é polarizado ao extremo. O Crossfire acabou e a versão brasileira também não pegou pois os conflitos entre comentaristas eram extrapolados na internet, com guerras de fã clubes.
A Jovem Pan apostou pesado nos debates polêmicos de política. Morning Show, 3em1, Opinião, Linha de Frente, até o Pânico, antes de humor escatológico, foi transformado em uma arena de debates políticos. Só que o formato é o diferente: há uma predominância de comentaristas de uma linha política (bolsonarista) e apenas um divergente, não necessariamente de esquerda.
É algo parecido com que a Bandeirantes fez por muito tempo em programas esportivos: colocava vários comentaristas corintianos e um apresentador de outro time (Kajuru do Palmeiras, Milton Neves do Santos). Enquanto os comentaristas literalmente jogavam para suas torcidas, o apresentador quase sempre perdia a paciência.
Com as redes sociais, os programas da Jovem Pan viraram espaço para comentaristas bolsonaristas usarem o divergente como escada para suas “lacrações”: frases de efeito que eram recortadas e espalhadas nas redes, quase sempre com títulos caça cliques: “Fulano destrói Siclano em programa sobre tal assunto”.
Aquilo que a CNN fazia era uma forma bastante questionável de fazer um debate público sobre vários temas. O que os programas esportivos e a Jovem Pan fazem é entretenimento puro. Não há interesse em debate público, apenas em divertir as torcidas com seus respectivos representantes. Não há formação de opinião, acréscimo a discussão, apenas viés da confirmação para as claques.
O posicionamento político é o agravante do caso da Jovem Pan. A grande maioria é bolsonarista e usa o diferente como escada. Mas mesmo que houvesse um equilíbrio entre petistas e bolsonaristas, por exemplo, continuaria a ser entretenimento e não jornalismo.
O formato da emissora entrou em cheque quando os comentaristas de esquerda César Calejon e Leonardo Grandini entraram sabendo como o jogo funciona: provocação, questionamentos ao comentarista rival, sem deixar sem interrompidos. A emissora ganhou cortes para serem distribuídos em redes da esquerda, que não constitui seu público habitual.
Constantino não aceitou participar do jogo do outro lado e deixou claro a emissora: quer rivalizar com alguém que não queria a provocação. Quer que o outro lado seja apenas escada para suas lacrações. A emissora tende a ficar do seu lado por motivos da maior parte da audiência ser bolsonarista.
Mas a Pan sabe que ganharia mais com o jogo sendo jogado dos dois lados. Aquele telespectador que escreve que não vai mais assistir o programa porque “tem um esquerdista falando” vai continuar ligado, porque sente que precisa manter a torcida pelos seus comentaristas. Equilibrar os times seria uma forma de se dizer não bolsonarista em tempos de governo Lula. O problema vai ser combinar com os russos.
É preciso reforçar: programas como 3em1 e Morning Show não são jornalismo e sim entretenimento. O debate sobre a comunicação social estende-se pelos programas de entretenimento e esporte, que possui uma categoria a parte nas emissoras (meio jornalismo, meio entretenimento). Não é o jornalismo que precisa de uma regulação geral no Brasil e sim toda a comunicação social.
E antes que alguém chame isso de censura, informo: moro há seis anos em Portugal, há regulação aqui e em outros países europeus e não há censura por causa disso. As pessoas querem melhorar a regulação, não extingui-la.
Enquadrar programas como esses da Jovem Pan é o primeiro passo. Colocamos eles na mesma prateleira de A Tarde é Sua, programas que o João Kleber tinha no passado, policialescos como Brasil Urgente e Cidade Alerta, etc.
O jornalismo brasileiro precisa rever sua forma de fazer a cobertura política. Culpar a polarização…
Uma coluna para palpitar e comentários os movimentos do mercado da mídia
Toda semana, comentários rápidos sobre mídia e jornalismo
Artigo publicado pela Journalism and Media mostra o comportamento dos moradores de uma pequena cidade…
Jornal de referência em Portugal cria um espaço de olho nos brasileiros que atravessaram o…
This website uses cookies.
View Comments