Assinatura para ver filmes e séries, assinatura para ouvir músicas, assinatura do plano de internet, assinatura até mesmo para ler ebooks gratuitos. A indústria da cultura utiliza cada vez mais o modelo de subscrições digitais para comercialização dos seus produtos. Já a indústria da informação, que sempre adotou este formato, começa a apontar para outra direção: os micropagamentos.
Chama-se de micropagamentos as soluções comerciais que trabalham pela venda de produtos avulsos, normalmente com valores baixos e com um sistema de fácil pagamento. Este pagamento pode ocorrer por um modelo pré-pago onde o cliente já possui um crédito junto ao sistema, ligado ao cartão de crédito, como o “pague com um click” da Amazon ou mesmo debitado no plano da operadora de telefonia móvel, através de pagamentos por SMS.
O importante no modelo de micropagamentos é que a compra seja muito rápida e fácil de ser feita, pois trata-se de um produto avulso e uma demora na compra e acesso ao produto pode fazer com que o usuário desista de fazer a operação.
Esta prática é comum em videogames online. Em alguns casos, o jogo em si nem é cobrado, mas dentro do jogo, há alguns aditivos que o jogador pode adquirir por valores baixos. A compra ocorre dentro da plataforma do jogo e a entrega é imediata (venda por cartão).
O jornalismo começou na internet a partir de 1995 com o conteúdo sendo disponibilizado gratuitamente, com raros casos como do Wall Street Journal, que desde a sua migração para a web adota o modelo de paywall, isto é, conteúdo 100% restrito a assinantes.
Nesta década (2011-2020), modelos de paywall onde parte do conteúdo é disponibilizado gratuitamente tornaram-se padrão nos grandes jornais do mundo inteiro. Alguns adotam o formato poroso (5 ou 10 matérias gratuitas por mês, depois é pago), outros o premium (notícias do dia-dia gratuitas, especiais pagas).
O domínio do paywall traz dois problemas: o primeiro é que a obrigação de uma assinatura completa afasta parte do público, pois o jornal digital concorre com as subscrições de produtos culturais (Netflix, Spotify) no orçamento do público. O segundo é a elitização: parte da população não tem como pagar por assinaturas digitais e fica sem acesso a um jornalismo com qualidade.
A ideia de implantar o micropagamento no jornalismo parte do princípio de dar maior poder de escolha para os leitores/usuários. Se o cidadão quer ler apenas uma notícia, ele deve ter esse acesso, sem precisar assinar o jornal inteiro. No impresso, havia a prática da compra do jornal avulso, opção que normalmente não está disponível na web.
Tecnologias para implantar esse modelo já existem. Conforme dito anteriormente, há como vincular a cartão de crédito, SMS ou em sistemas de transação financeira imediatas como o MB Way em Portugal e o PicPay no Brasil. O PayPal, que atua no mundo inteiro, disponibiliza essa função.
Mas os desafios para que esse modelo torne-se mais comum no jornalismo são muitos: além da barreira cultural, as pessoas não são acostumadas a pagar por informação na internet e estranham ter que pagar por cada notícia lida, há o debate sobre o valor da informação: quanto vale uma notícia? Se a notícia não corresponder a expectativa do leitor, ele pode pedir o dinheiro de volta?
Uma grande reportagem que revela um escândalo político ou que tenha informações realmente exclusivas pode ter um valor individual que justifique a venda avulsa. Mas os jornais dificilmente produzem somente este tipo de material. Talvez por isso, poucos jornais estão a apostar neste formato.
O Sapo Prime, é por isso, um dos casos interessantes a serem analisados de micropagamentos. O Sapo é uma portal de conteúdo e serviços digitais criado na Universidade de Aveiro, Portugal, em 1995. Criado inicialmente como serviço de busca, hoje oferece outros serviços digitais, além de conteúdo jornalístico, algo parecido com o que o UOL e o espanhol Terra ofertam no Brasil.
O Sapo Prime funciona como um agregador de notícias premium. Atualmente, são 10 jornais ou revistas de Portugal integradas no sistema. As matérias disponibilizadas no agregador estão restritas a assinantes nas páginas originais e estão a venda de forma avulsa no Prime com valores entre 0,21€ e 0,53€.
As três primeiras leituras são gratuitas. A partir daí, a venda ocorre na fatura da conta de telefone/internet da MEO (empresa dona do Sapo) ou por MB Way, sistema de pagamento imediato por telefone celular.
Neste caso, o Sapo Prime funciona como um intermediador que faz uma curadoria de reportagens especiais, além de gerenciar o pagamento. Uma proposta interessante, porém ainda elitista pelo tipo de reportagem ofertada.
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