A política brasileira deveria ser uma série da Netflix. Os roteiristas em Los Angeles jamais conseguiriam pensar em um roteiro tão cheio de reviravoltas como dessa novela política brasileira. O último capítulo que foi ao ar poderia ser intitulado FACHINADA. O ministro lavajatista que ajudou Lula de um jeito que nem o mais fanático petista poderia sonhar.
É fato que Fachin, na verdade, está tentando salvar a Operação Lava Jato. Sua intenção era que o habeas corpus que Lula impetrou no Supremo acusando Moro de ser parcial no julgamento perdesse a importância. Fachin sabe que se Moro for declarado parcial nos casos que envolvem Lula, abre-se um precedente para todos os condenados por Moro na Lava Jato fazerem o mesmo.
Mas o que temos de certo hoje é que os direitos políticos de Lula foram reestabelecidos, as duas condenações anuladas e tudo vai recomeçar em uma vara de Brasília, onde pode ser célere ou pode ser lento até as acusações contra o ex-presidente prescreverem. As acusações contra Lula nunca estiveram ligadas a Petrobrás e seu caso nunca deveria ter sido analisado em Curitiba. Mas o fato é, a partir de agora, o jogo político mudou.
Fachin devolveu as cartas para Lula, para que ele possa jogar. Não sabemos até agora quais serão as estratégias do ex-presidente, se ele vai para um All-In, se ele vai esconder as cartas ou possui um Royal Street Flush nas mãos. Sim, o Lula pode ser candidato, mas isso não significa que ele vai ser. As eleições ocorrerão daqui a um ano e meio e ele não precisa decidir já.
Começou uma nova partida, um novo jogo para 2022. O cenário está embaralhado e a maioria da população ainda não digeriu a notícia da elegibilidade de Lula. Sabe-se, por enquanto, que a economia vai mal, que a saúde vai mal e que o atual presidente precisa mudar, ao menos, a rota, para ser competitivo em 2022. Em queda livre, não há governante que se reeleja.
Vamos então, fazer um panorama básico dos principais nomes para 2022 com a notícia da volta do Lula.
Ciro Gomes e João Dória são aqueles que mais perdem com a volta de Lula ao jogo. Por que? Porque eles são os mais prejudicados com uma possível forte polarização entre Bolsonaro x Lula. Neste cenário, uma terceira via só tem chances se for uma candidatura única. E essa candidatura única precisaria ao mesmo tempo acenar para direita e esquerda.
Dória não possui condições que pegar voto da esquerda que não se simpatiza com a volta de Lula. Ciro tem rejeição no mercado financeiro pelas suas propostas econômicas. Só petista e psolista fanático enxerga ele como alguém de direita. O mercado financeiro e parte da mídia vão querer que o nome da terceira via venha da centro-esquerda.
Luciano Huck e Eduardo Leite podem comemorar o retorno de Lula ao jogo. Essa ideia que disse antes de uma terceira via única, que sinalize para direita e esquerda, dificilmente sairá com um nome de origem na esquerda por causa da mídia. Mas o nome vindo da direita precisa saber dialogar com parte da esquerda, ao menos.
Huck é irmão de Fernando Grostein, do Quebrando o Tabu. Tem um caminho já criado para dialogar com setores progressistas. Eduardo Leite é tucano, ou seja, tem estrutura partidária, e um perfil muito mais moderado que Dória. É jovem e sabe portar-se ao Centro, apesar de ser alguém de direita. Huck tem chances de avançar no Nordeste onde Dória jamais terá voto. Leite é o nome mais moderado que o PSDB possui. Eles podem ter muitos problemas de voto, mas possuem muito mais potencial de crescimento que o governador paulista.
O presidente ganhou a oportunidade de trazer a Faria Lima de volta. Ele deve explorar o antipetismo e trabalhar no medo para fazer aquele eleitor que se simpatiza com o Novo voltar para o seu colo. É a teoria da “Escolha Muito Difícil” do Estadão em 2018.
O problema de Bolsonaro é a realidade. Os fatos jogam contra ele e simplesmente dizer que há uma ameaça da volta de Lula será insuficiente se o Brasil estiver no buraco em 2022. O presidente precisa entender que Lula pode ser o radical comunista de 1989, o messiânico religioso de 2018 ou o Lulinha Paz e Amor, amigo do mercado e da direita, como em 2002. Não subestimem a capacidade do ex-presidente de mudar o figurino.
O mais interessante do jogo atual é a possibilidade de Lula não ser candidato, mesmo podendo. Cristina Kirchner fez isso em 2019 e quebrou a direita argentina, que já preparava-se para um embate super polarizado. Defendo a tese de que Lula só entrará no jogo se for para ganhar. Ir para o ringue e ser derrotado por Jair Bolsonaro seria um golpe muito forte para Lula e o PT. Seria a consagração do atual presidente.
Por isso, entendo que Lula só entra em campo com um cenário de devastação econômica no Brasil em 2022. Nesse caso, ele veste o figurino de conciliador de 2002 e ganha fácil, talvez em primeiro turno. Em outros cenários, pode ser melhor para o PT ele não ir. Vejo Haddad como um nome que pode ser bem trabalhado para ser competitivo. Lembramos: 2022 não é 2018. É outro país.
Por enquanto, vamos acompanhar o jogo e ver as apostas.
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