A regulação das big techs voltou à pauta do Brasil depois do caso Choquei, onde uma jovem cometeu suicídio após uma notícia falsa. Porém, é preciso dizer que: a fake news não é o maior problema dessa história e a regulação das plataformas pode não resolver. Neste caso, precisamos de uma regulação da mídia.
A jovem de suicidou porque sofreu um linchamento virtual. O motivo? Um falso affair com um influenciador digital. Uma fake conversa dos dois foi publicada nas redes sociais e espalhada por grandes influenciadores, entre eles a Choquei, página de fofoca de celebridades com mais de 20 milhões de seguidores. A jovem não era popular e não aguentou a onda de ódio contra ela.
Primeiramente, eu tinha a ideia de comentar porque diabos uma horda de usuários da internet ataca uma desconhecida só porque ela estaria saindo com alguém. Para mim, isto não faz o menor sentido. Porém vou me concentrar na questão da comunicação social:
Se a conversa fosse verdadeira, mudaria alguma coisa?
Se o influenciador e a jovem tivessem realmente um caso, a privacidade deles estaria sendo invadida, a horda de malucos atacaria a jovem do mesmo jeito e o desfecho seria igual. Portanto, o fato de ser uma fake news é um agravante, mas toda a história é um horror sob o ponto de vista da comunicação.
Logo, a Choquei deve ser processada não apenas por ser espalhado uma fake news, mas pela irresponsabilidade de querer divulgar informações íntimas de uma pessoa, SABENDO QUE ELA PODERIA SER LINCHADA POR CAUSA DISSO.
Antes de tudo, é preciso ressaltar: não existe jornalismo de fofoca, existem páginas, programas e revistas de fofoca. Fofoca não é jornalismo porque não possui interesse públio. Interesse público é aquilo que a sociedade precisa saber, o que não inclui a vida íntima das pessoas. Um filho de um político praticar tráfico de influência é interesse público, a orientação sexual dele, não.
Porém, todos nós sabemos que fofoca dá muita audiência. Logo dá muito dinheiro. Por isso, a mídia em geral dá espaço para esse tipo de conteúdo (nem toda informação midiática é jornalismo). E por falar da vida íntima de artistas, a mídia de fofoca sempre andou no limite da legalidade. Tem artista que gosta e deseja ser assunto desses programas. Até aí, tudo bem, o problema é quando o artista, a celebridade não gosta.
Com a internet, qualquer coisa viraliza, qualquer pessoa vira celebridade do nada, qualquer pessoa pode ser exposta e destruída ou idolatrada nas redes sociais, independente dos meios de comunicação. A Choquei é um exemplo máximo da nova versão da mídia de fofoca na era das redes sociais.
A Choquei sabe do poder que tem. Os donos sabem que uma mera postagem pode tornar alguém famoso, como aparecer em um programa dominical na TV nos anos 90. E na busca por audiência, likes e retuítes, publicaram a suposta conversa do influencidor com a jovem, sabendo que isso iria infernizar a vida dela. Porém, ignoraram os riscos.
A regulação da mídia, neste caso, é mais importante que a regulação das big techs. Pouco adiantava o Twitter apagar a postagem da Choquei, pois o estrago já estava feito. O que precisamos neste caso é regular os meios de comunicação social produtores de jornalismo e também de entretenimento.
Regular é colocar regras, não controlar. Portanto, não estamos falando de autoritarismo e sim de regras para os meios de comunicação cumprirem, sob pena de sanções internas da comunicação, antes do caso chegar no judiciário. A Choquei vai ser processada e muito provavelmente será condenada, mas com uma comunicação regulada, ela já teria sido punida em outras oportunidades e, talvez, fosse mais responsável neste caso.
Por fim, repito: a fake news não foi o maior problema e sim a irresponsabilidade com uma jovem desconhecida, atacada por uma horda de malucos com a chancela da Choquei. A comunicação social é uma coisa poderosa e exige responsabilidade.
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