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Por que Tabata Amaral deveria ser expulsa do PDT?

FOTO: Agência Brasil

Spoiler: não é por ela ser favorável a reforma da previdência

A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) é um dos assuntos mais comentados nas redes sociais desta semana. A jovem parlamentar do PDT era um dos destaques da Câmara dos Deputados em 2019 e ganhou notoriedade quando enfrentou o então ministro da Educação, Ricardo Vélez, em uma audiência na Casa. Já atacada por militantes de partidos como PT e PSOL por conta de algumas entrevistas, Tabata voltou ao alvo das esquerdas por votar a favor da reforma da previdência, contrariando decisão do partido. Há sim, razões para os trabalhistas expulsarem Tabata da legenda. E o motivo principal nem é especificamente a reforma.

Esse vídeo publicado pela direção nacional do PDT é a chave para a discussão deste artigo. Em março deste ano, numa convenção da legenda, o presidente Carlos Lupi propõe que os brizolistas fechem a questão CONTRA a reforma da previdência. A proposta é aprovada por unanimidade com a presença de Tabata Amaral, que aparece no vídeo, sorrindo, ao lado de Lupi.

Um político pode mudar de ideia? Pode. Mas o mandato que um deputado possui não é mérito exclusivo seu. Com algumas exceções, os deputados federais são eleitos pela legenda. Sozinhos, não atingem o número de votos mínimo para o coeficiente eleitoral. Deputados e vereadores não chegam em seus mandatos sozinhos, só com seus votos. Chegaram em grupo, em partidos.

Tabata comunicou a direção do PDT que votaria contra a orientação partidária somente uma semana antes. Ela só mudou de ideia há 10 dias? Se mudou antes, porque não comunicou o partido? Se mudou antes, porque não abriu um debate interno no partido sobre a reforma da previdência.

A deputada tentou sim, abrir uma discussão sobre a reforma, mas fez isto pela imprensa. Ou seja, priorizou holofotes e ignorou a legenda ajudou a levá-la a Brasília.

A minha crítica sobre Tabata não é por ter apoiado a reforma. É por ter ignorado o partido que a elegeu. Ela agiu de forma individualista, agiu com infidelidade partidária.

O discurso independente

Eu duvido que o PDT vá expulsá-la. Para fazer isso, precisaria expulsar outros sete deputados que também votaram pela reforma e isso enfraqueceria muito a sigla. Mas o caso abre a oportunidade para falarmos sobre o discurso independente nos poderes legislativos.

Independente do que? Um parlamento serve para representar setores da sociedade. E o sistema político brasileiro (e de todos os outros países democráticos) é feito a partir de partidos. O partido é um norte para o eleitor saber mais ou menos como o candidato vai se portar caso seja eleito. O partido indica para o eleitor de que lado ele vai ficar nas discussões mais importantes.

Um parlamentar que diz independente do partido a qual é filiado, tem responsabilidade com quem? É falacioso o discurso que a responsabilidade é com os eleitores. Ora, um deputado não sabe quem foi que votou em si, no máximo conhece uma militância mais próxima e aguerrida.

Fidelidade partidária

Para quem acha que fidelidade partidária é bobagem, lembramos que o tal centrão, o grupo de partidos fisiológicos tem como característica a falta de um norte, uma ideologia, um caminho a seguir. São amontados de políticos “independentes” que se juntam para serem eleitos e depois para receber verbas do governo para seus cidades de origem.

Qual a diferença entre o discurso ideológico de um político clássico do centrão e um “independente”? Ambos colocam seus interesses pessoais acima de grupos políticos e não são confiáveis.

Tabata é integrante de um movimento político chamado Acredito, que elegeu diversos deputados por siglas diferentes nas últimas eleições. Todos eles votaram a favor da reforma da previdência, todos com o mesmo discurso sobre o assunto. Pergunto: porque os partidos aceitam candidatos de movimentos como o Acredito? Não há um conflito de interesses/ideias ali? Se o Acredito é homogêneo em suas ideias, porque não se torna uma partido próprio?

Se você é contra a expulsão de Tabata (que nem deve acontecer), faço a pergunta: se você fosse presidente de um partido, gostaria de ter ao seu lado uma parlamentar apoiada por um grupo externo, que ignora as posições do partido e vota como bem entender?

O que aconteceria se um deputado do NOVO votasse CONTRA a reforma, depois da sigla fechar questão a favor? Independente de você ser a favor ou contra a reforma da previdência, vamos combater esse discurso independente que ignora os partidos, que se coloca acima deles? Isso não é bom para a democracia…

Ah, e sobre a reforma em si, um artigo sobre o papel das esquerdas no processo. Confira.

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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