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O português brasileiro em Portugal e o sensacionalismo

Virou motivo de indignação e piada no Brasil a notícia que pais portugueses estão muito preocupados porque seus filhos aprenderam gírias e expressões do português brasileiro. As criançaas assitem vídeos do Luccas Neto no YouTube e usam nossas expressões em casa, com os pais.. O assunto viralizou com uma reportagem do Diário de Notícias, que será alvo de crítica nesta postagem. Estamos diante de um texto sensacionalista e não de uma verdadeira polêmica.

Brasil e Portugal estão cada vez mais próximos. Pequenas polêmicas com o português brasileiro serão comuns.

Canais brasileiros no YouTube fazem muito sucesso em Portugal. Além dos irmãos Felipe e Luccas Neto, podemos citar o Porta dos Fundos como exemplo de grande audiência em terras lusitanas. E sim, as crianças portuguesas assistem muito o Luccas Neto. Tanto que a matéria do Diário de Notícias começa contando de uma apresentação dele em Lisboa. Mas dizer que há uma grande polêmica sobre a influência do nosso português é outra história.

A matéria é ruim porque pega a insafisfação de alguns pais a ver seus filhos usando termos do português brasileiro e transforma isso em um grande problema sem conseguir justificar. Vejamos: além dos pais, a reportagem entrevistou uma professora, uma fonoaudióloga e uma professora de linguística. Das três, duas relativizam o problema, principalmente a professora de linguística. Ou seja, o alarde não se justifica no próprio texto.

O uso de expressões como “sinais de alerta” dão o sensacionalismo a notícia. Uma questão cultural é tratada como um problema grave, como se as crianças estivessem usando algum tipo de entorpecente. Sim, os pais entrevistados exageram, tratam isso como se fosse um vício. O problema é o jornal concordar e entrar nesse tom alarmista.

Piada

Enquanto o DN escandalizava com o caso, o que mais vi foram portugueses fazendo piada com a notícia. Lembrando da influência das novelas brasileiras e outros casos de conteúdos estrangeiros na mídia local. O humorista Ricardo Araújo também tirou sarro da história. Para ele, pior que a influência do português brasileiro é a influência ser de um youtuber.

No entanto, Portugal já costuma usar expressões de origem estrangeira no dia-dia. Bué, sinônimo de “muito”, tem origem angolana. Portuguess chamam as camisas de malha de T-shirts e o mercado de publicidade também possui tara por palavras em inglês.

No Brasil, tirando alguns revoltados das redes sociais, grupo social que já possui uma cota de participação em qualquer rede, a maioria também fez piada com o assunto. Colonização reversa, “o jogo virou” foram expressões que surgiram para fazer piada a partir da notícia.

Xenofobia?

Obviamente, existe xenofobia em Portugal. Trata-se de um problema universal, encontrado inclusive no Brasil, onde temos a xenofobia interna. Como catarinense, afirmo sem medo que meu estado é xenófobo com várias partes do país. Mas a notícia do DN é sensacionalista e não xenófoba. O diário de Lisboa não tem tradição de discurso xenófobo. Portanto, foi apenas uma matéria que quis polemizar muito onde não há muita polêmica.

Comentários de alguns pais, mais especificamente de uma mãe, podem sim, ser classificados como xenófobos. Tratar o uso de expresões do português brasileiro como vício é uma coisa absurda. Mas é fato que se o tema foi debatido nos dois lados do Atlântico, é porque o DN exagerou na abordagem. O assunto é bem menor.

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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