Se você, leitor, é um daqueles que não aguentava mais as discussões apresentadas durantes as eleições de 2018, uma má notícia: a tendência é continuar em 2019. O presidente e alguns ministros dão sinais que vão manter um debate bobo com uma visão limitada da política e da sociedade, um debate raso de internet que pouco contribui ao Brasil. A campanha acabou, mas os palanques continuam montados.
Dizer que vai libertar o Brasil do socialismo pode funcionar muito bem numa campanha. Mas com o mandato em andamento, a frase é vazia e não significa absolutamente nada. Jair Bolsonaro foi eleito com 55% dos votos válidos, mas é um erro achar que esses 55% são de eleitores fanáticos de direita. Muita gente votou nele porque estava cansados dos outros nomes. Muita gente que votou nele não está nem aí para socialismo, marxismo, globalismo. O discurso de Bolsonaro na posse agita a militância, mas não dá para governar só para eles.
A situação é a mesma para a Educação. Dizer que vai combater o marxismo cultural não significa nada. O militante bolsonarista aplaude, o povo em geral fica na espera para ver o que vai acontecer na prática. O PT sempre foi muito bom de retórica e hoje está em baixa pelos resultados negativos do governo Dilma. Mantém a força no NE graças aos resultados positivos oriundos do governo Lula. Resumindo: o povo vai avaliar Bolsonaro pelos resultados, não por esses discursos.
O ministro das Relações Internacionais é outro que ainda não saiu do palanque. Sua posse é cheia de frases de efeito, mas perigosas para o país. Bolsonaro assumiu dizendo que as relações exteriores não seria mais pautada por questões ideológicas. Na prática, pode ocorrer exatamente o contrário. O novo Chanceler não gosta da China, do Mercosul, quer uma política alinhada aos Estados Unidos. O Itamaraty quer levar a embaixada de Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, provocando a comunidade islâmica. As ideias do chanceler levam a uma ideologização do Itamaraty e vão contra as ideias de Paulo Guedes, da Economia, que defende uma visão ultraliberal que comercializa com todos os países, independente das ideologias dos partidos que governam os outros países. É um caso contra o palanque vai afetar o governo na prática.
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos voltou a ser assunto na internet (e nas mesas de bar) com a frase que “menino veste azul, menina veste rosa”. A ministra já tinha sido piada quando falou que viu Jesus em um pé de goiaba. É, provavelmente, a titular do primeiro escalão com menor tato para a política e será um alvo constante de críticas. Sinceramente, acho muito difícil ela implantar as coisas que discursa em seu palanque. Mas o seu fanatismo “terrivelmente cristão” pode leva-la a transformar o discurso em algo concreto. O risco é alto: se não conseguir, para o ministério e cai. Se conseguir, fará mal a muita gente.
Paulo Guedes nunca tinha ocupado cargo público e durante a transição assustou senadores com sua inexperiência. Porém, mostrou para a sociedade nos primeiros dias que é o mais coerente e organizado. Toda a sua equipe tem experiência pública e é alinhada com as ideias dele. O ministro da Economia ainda tem apoio de parte do Congresso, do lobby empresarial/financeiro e logo terá da mídia para implantar seus projetos. É o mais interessado em trocar o palanque pela prática. Seu maior inimigo não será a esquerda, atualmente fraca e desarticulada. Seu inimigo será o próprio governo.
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