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A esquerda perdeu tempo na previdência. Mas ainda dá tempo

Brasília – O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, durante sessão para votação da MPV 752/2016, no plenário da Câmara (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Não é uma questão ideológica. É uma questão de marketing político

A proposta de reforma da previdência apresentada pelo Executivo e reorganizada pelo Legislativo avançou na Câmara dos Deputados. A primeira votação foi aprovada com larga vantagem e a segunda votação também resultará em aprovação. O Senado também vai aprovar, ou seja, alguma reforma vai passar. Os partidos de esquerda não souberam lidar com o assunto, não tiveram um bom marketing político e perderam o bonde da história. Mas ainda dá tempo para arrumar. Vamos lá.

A proposta apresentada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, era o sonho do empresariado, do establishment brasileiro. Obviamente era o terror para as esquerdas, para as classes sociais mais baixas. O Centrão, formado por partidos fisiológicos no Congresso, tratou de tirar as coisas mais absurdas do texto. O presidente da casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) assumiu a responsabilidade de aprovar uma reforma em meio as loucuras do presidente Jair Bolsonaro. E as esquerdas? Bom, as esquerdas perderam tempo.

Considerando que o sistema previdenciário brasileiro é de solidariedade, que há outras fontes de receita além do pagamento do INSS, que há muitos empresários com dívidas enormes com a previdência, podemos concluir que a tal tese do “a previdência está quebrada” não é bem assim. Porém, deve-se reconhecer duas coisas:

A população está envelhecendo. É preciso agir antes, criar idades mínimas (algumas profissões n tinham). Todos os países fizeram isso.

Várias classes sociais eram privilegiadas de forma absurda no sistema atual. Juízes, deputados, etc.

Ou seja, a reforma da previdência urgente pregada pelo establishment queria sim ferrar os trabalhadores, mas o sistema previdenciário precisa SIM passar por ajustes. E foi aí que as esquerdas erraram. Ao invés de combater os absurdos e defender alguns pontos positivos, com o teto de cinco mil reais, os partidos de esquerda fizeram oposição a qualquer tipo de reforma.

As insanidades do presidente, que nunca foi de fato um apoiador da reforma, a bagunça do governista PSL, a desarticulação política do Executivo, havia espaço para as esquerdas tomarem o protagonismo e ajustarem a reforma junto com o Centrão, ou na pior das hipóteses, enfraquece-la ao máximo.

Enquanto as esquerdas diziam REFORMA NÃO, governo, centrão, imprensa, o establishment político-empresarial do país fizeram uma gigantesca e bem-feita campanha para convencer a população que uma reforma precisava ser feita e que era melhor aceitar a do Rodrigo Maia que não ter nenhuma. Resultado, a reforma passou com facilidade na Câmara, com as esquerdas ficando com a fama de birrentas, que não sabem fazer contas, que não se atentam aos problemas fiscais do país.

Manutenção do Benefício de Prestação Continuada, Aposentadoria Rural, exclusão do sistema de capitalização, redução da idade mínima para mulheres. Essas importantes correções ficaram na conta de Rodrigo Maia, não das esquerdas.

Ainda dá tempo

Depois da paulada da votação do texto-base, as esquerdas deram uma acordada e conseguiram articular vitórias importantes na votação dos destaques. A redução de 20 para 15 como tempo de contribuição mínima para todos e a regra de transição que abaixou a idade minima para professores na ativa são conquistas importantes que vai para conta dos partidos de oposição.

E ainda dá para fazer mais. Como a segunda votação na Câmara ficou para agosto, é possível colocar novos destaques, minimizar as maldades contra os mais pobres e tornar a reforma mais aceitável. Questões relacionadas a pensões por morte, abono, entre outros possuem condições de serem aprovados. O governo continua preocupado em arrumar confusões, o presidente em colocar o filho como embaixador. Portanto…

É hora das esquerdas trocarem os ataques insanos ao texto-base da reforma, aonde já perdeu, e focar em articular com o centrão uma suavização ainda maior da proposta. A aprovação de alguns destaques na primeira votação sinalizam que é possível.

E quanto a votação de deputados da oposição em favor da reforma? Esse assunto merece um artigo próprio, especialmente sobre Tabata Amaral. Confira aqui.

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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