A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Observatório da Ética Jornalística (objETHOS) publicaram um dossiê sobre a violência contra jornalistas no Brasil. Sobre o assunto, eu lembro de algumas frases:
“Eu vou acabar contigo, com a tua carreira, vais perder tudo que tens. Você se prepare”.
“Por que você e o teu jornal ficam me perseguindo o tempo todo? Vocês não tem coragem de falar o que escrevem na minha cara? Vamos resolver isso que nem homem!”.
Foram dois políticos de Santa Catarina que disseram isso para mim após reportagens que desagradaram eles. Foram os ataques diretos que recebi e me lembro. Os indiretos foram muito piores: vereadores e poderosos de prefeitura já pediram a minha cabeça em jornais que trabalhei. Eles não pediam oficialmente a minha demissão, mas colocavam pressão para cima da direção do jornal. Esses nunca tinham coragem de reclamar diretamente comigo.
Já me pediram para não escrever sobre um determinado assunto que eu estava levantando informações. Depois, descobri o tamanho do buraco… Outra vez, um político amigo meu recomendou cautela sobre as denúncias de corrupção envolvendo um empresário. “Cuida que esse cara é gangster”, me disse.
Os casos descritos acima ocorreram entre 2006 e 2016, quando trabalhei como jornalista no Brasil. Mas a situação piorou muito. Segundo o dossiê da Fenaj/objETHOS, até 2018, a Fenaj não registrava mais de 200 casos por ano. Em 2019 tivemos 208 casos. Em 2020 e 2021, os números dispararam para 428 e 430 casos, respectivamente.
No gráfico apresentado acima, fica evidente que a situação piorou demais sob o governo Bolsonaro. Nos três anos do atual governo foram 1066 casos contra 1024 dos nove anos anteriores somados. O presidente é também o maior agressor, com 147 casos.
O segundo maior agressor contra jornalistas surpreende: a EBC, Empresa Brasileira de Comunicação, responsável por produtos como a TV Brasil, Agência Brasil, entre outras. E por que uma empresa de comunicação, apesar de pública, está em segundo? Porque a censura é o tipo de agressão mais comum, correspondendo a 47% dos casos.
Mas a censura, obviamente, não ocorre apenas em meios públicos. A maioria dos meios de comunicação do Brasil possuem dependência financeira do poder público, seja ele municipal, estadual ou federal. Sem contar a censura da casa, tomada por empresários da comunicação com outros interesses e não o jornalismo.
Descredibilização e ataques verbais aparecem em seguida nos casos mais registrados de violência contra jornalistas. Obviamente, as gressões físicas são mais incomuns, mas cada caso registrado desses assusta demais. Por fim, temos as ameaças e intimidações, como os dois casos comentados no começo deste artigo.
Outra violência grave contra os jornalistas é a precarização da profissão. Eis um problema grave, que talvez muitos não percebam como uma violência contra o profissional e também contra a população, que tem direito a informação.
Salários baixos, informalidade, contratação por MEI, carga horária muito acima do normal e uma exploração além das horas contratadas, situação agravada na pandemia. Como um jornalista vai arriscar, bater de frente com os poderosos, se ele não tem nem as condições mínimas para fazer um bom serviço?
O dossiê da Fenaj/objETHOS traz algumas propostas para melhor a situação dos profissionais da imprensa no Brasil, com medidas a serem tomadas pelas empresas, pelos jornalistas, ministério público e os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).
Termos uma classe mais unida pode ser o primeiro passo para que a categoria consiga fazer uma pressão sobre os outros atores.
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