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É possível relacionar abstenções e desertos de notícias?

Como os eleitores podem se informar para uma eleição?

Os desertos de notícias (e os semi-desertos) atingem 78 dos 308 concelhos de Portugal. Se somar os ameaçados, temos mais de 50% dos municípios de Portugal com algum problema. Diante destes números, o presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, João Palmeiro, fez um questionamento: Podemos relacionar abstenções e desertos de notícias? Ou seja, onde não há notícias locais, as pessoas se interessam menos por política?

O Labcom da Universidade da Beira Interior decidiu responder a pergunta de João Palmeiro. Primeiro, uma apresentação preliminar, em outubro do ano passado, no congresso da Associação Europeia de Pesquisa e Educação em Comunicação (ECREA). Agora, em um artigo publicado na revista Social Sciences, assinado por mim e pelos pesquisadores Luísa Torre e Pedro Jerónimo. Afinal, é possível relacionar abstenções e desertos de notícias?

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A resposta é não. Os dados preliminares de outubro analisaram os índices de abstenções em Portugal nas eleições autárquicas (municipais) de 2021 e legislativas (nacionais) de 2022. Já o artigo fez uma análise também do caso no Brasil, onde foram analisadas as eleições presidenciais de 2022. Porém, os dados das eleições municipais de 2020 no Brasil não puderam ser utilizados, já que ocorreram em uma situação muito atípica, em meio a uma pandemia, o que afetou fortemente o índice de abstenções.

A análise dos dados apontou que não é possível fazer esta correlação, isto é, as abstenções não são indicativos que a ausência de notícias locais gera maior desinteresse dos eleitores. Portanto, o eleitor de uma cidade onde não há produção de notícias locais vota e se interessa por política. Entretanto, ele não dispõe de meios próximos para se informar sobre o processo eleitoral.

As conclusões desta pesquisa abrem espaço para novas investigações. Afinal, como é que um cidadão de uma cidade sem notícias locais se informa para escolher o seu voto? O jornalismo não possui mais a relevância que julga ter para a cidadania e as decisões públicas?

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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