Em qualquer análise política do cenário brasileiro atual, cientistas políticos e jornalistas eram unânimes em dizer que a esquerda não tinha candidatos para a sucessão em 2022, enquanto a direita tinha opções como extrema (com o próprio Bolsonaro), conservadora-populista (João Dória) e liberal (Luciano Huck). A esquerda não tinha! Em mais uma gafe bizonha para um presidente da República, Jair Bolsonaro conseguiu apontar um caminho para as esquerdas: Flávio Dino, governador do Maranhão, hoje no PCdoB.
O Nordeste já era o calcanhar de aquiles do bolsonarismo. Única região que deu vitória a Fernando Haddad (PT) em 2018, era de onde vinha a maior rejeição os seis primeiros meses de mandato. Sete dos nove governadores são de partidos de esquerda, tornando a região um centro anti-bolsonaro.
Ao invés de buscar formas de romper com essa barreira, Bolsonaro conseguiu fazer o contrário. Foi flagrado em um vídeo antes de uma conversas com jornalistas estrangeiros chamando todo o Nordeste de “Paraíba” e ainda atacando diretamente Flávio, que seria o “pior deles” e que o governo não deveria ter acordo nenhum.
Quais foram as reações? Uma revolta geral no Nordeste contra o presidente paulista criado no Rio de Janeiro, que chamou todos os nordestinos de “paraíba”, expressão comum entre os cariocas para mostrar um preconceito contra o Nordeste. Bolsonaro deu munição para a oposição, para seus críticos na imprensa e reforçou uma divisão entre Norte/Nordeste e Sul/Sudeste causado pelas últimas eleições nacionais.
Bolsonaro dificulta a vida dos seus aliados no Nordeste, que fiéis são poucos. Muitos dos que hoje não fazem oposição ao seu governo, a maioria políticos do Centrão, podem muito bem trocar de lado se perceberem que suas bases eleitorais estão ainda mais descontentes com o governo.
Governador do Maranhão em segundo mandato, Dino já teve a proeza de derrotar a família Sarney dentro do estado de origem do clã. Reeleito com mais de 70% no primeiro turno e com uma das melhores avaliações do Brasil, Dino já se assanhava com a possibilidade de disputar o Planalto em 2022. Participava de entrevistas no eixo Rio-São Paulo para nacionalizar seu nome e algumas de suas ações no governo foram feitas milimetricamente ajustadas contra Brasília como o anúncio de mais investimentos nas universidades estaduais do Maranhão, em contraponto aos cortes feitos pelo Ministério da Educação.
Contra Dino pesavam dois fatores importantes para não ser o candidato da centro-esquerda em 2022: a filiação ao PCdoB, um partido frágil que se quer conseguiu ultrapassar a cláusula de barreira em 2018 e a baixa projeção que o governo do Maranhão dá em termos nacionais. Graças a Bolsonaro, o segundo ponto poderá ser resolvido.
Ser atacado pessoalmente por Bolsonaro dentro de uma fala preconceituosa e desastrada era tudo que Dino precisava para impulsionar o seu nome
A favor do governador maranhense o bom trânsito com PT, PDT (inclusive Ciro Gomes), PSB, Rede e PSOL. É um nome que pode unir uma região inteira e toda a esquerda ao seu favor. Tudo isso com a ajuda de Bolsonaro, claro.
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