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Desertos de Notícias no Brasil continuam caindo

Há mais municípios com jornais que municípios em desertos de notícias no Brasil. O Atlas da Notícia, que faz o mapeamento dos desertos desde 2017, constatou mais uma redução do fenômeno. São 2.712 cidades que não possuem nenhum meio de comunicação, o equivalente a 49,7% do total de municípios brasileiros.

No relatório de fevereiro de 2022, com dados de 2021, eram 2.968 cidades nos desertos, 53,3% do total. Porém, o Brasil continua sendo o primeiro do ranking entre os países que fizeram este tipo de mapeamento, a frente de Argentina, Portugal, Colômbia e Estados Unidos, por exemplo. São 26,7 milhões de brasileiros afetados.

Os dados estão disponíveis no site do Atlas da Notícia. Abaixo, uma breve análise sobre o fenômeno no Brasil.

Se o jornalismo passa por crise, porque os desertos de notícias no Brasil caem?

Chama muito a atenção a redução dos desertos, que caiu em todas as edições do Atlas da Notícia, que começou em 2017. Afinal, o jornalismo no Brasil vai bem? Estamos saindo da crise? Está tudo bem no jornalismo regional brasileiro?

Jornalismo regional precisa ser debatido

Vejamos: para uma cidade deixar de ser um deserto de notícias, alguém precisa abrir um meio de comunicação. E quais são os novos tipos de meios de comunicação regional no Brasil? Projetos online e rádios comunitárias. De acordo com o Atlas, o Brasil registrou 575 iniciativas nativas digitais e 239 rádios entre o atual relatório e o anterior, ou seja, numa diferença inferior a dois anos.

O online já é o formato mais comum no Brasil, com a rádio em segundo e o impresso em terceiro. Como o Brasil não possui uma regulação da mídia, o online inclui desde empresas com uma redação formada por vários jornalistas até um blog independente, sem recursos para se manter, mas que cumpre o papel de ser o meio que informa uma determinada região.

Quando o único jornal de uma cidade fecha as portas, a cidade vai para o deserto de notícias. Com o tempo, podem surgir novas iniciativas, normalmente digitais, para suprir essa demanda. Mas isto não significa que o cenário melhorou. Não significa que há recursos para manter o novo projeto ativo por muitos anos. Logo, não dá para saber se a situação, de fato, melhorou.

Entre um relatório e outro, 39 empresas jornalísticas fecharam as portas. São 942 empresas do setor fechadas desde que os estudos começaram a serem feitos. Estes dados reforçam a desconfiança quanto ao surgimento de novas empresas. Vão sobreviver?

O mapa do Brasil

As regiões mais afetadas do Brasil continuam a ser Norte e Nordeste. Porém, há uma redução, principalmente na região Nordeste, com destaque para o Estado de Pernambuco. O Rio de Janeiro é o estado com menor número de concelhos no deserto, entretanto, foi o estado que registrou um aumento em relação ao relatório anterior.

Os números deste relatório reforçam a tese que os desertos de notícias emergem onde não há muita gente e pouco dinheiro circulando. A economia é decisiva. Cidades sem atividades econômicas fortes não conseguem manter jornais funcionando. Antes, era possível uma prefeitura bancar o jornal, hoje, o poder público não precisa do jornalismo para se comunicar com a população.

Observações finais

O jornalismo regional continua apanhando feio no Brasil. O surgimento de novos projetos não são garantias que está tudo bem. Até porque, o empreendedorismo no jornalismo brasileiro é uma necessidade, não uma escolha. Afinal, se os jornalistas não abrirem novos projetos, onde eles irão trabalhar?

Seria interessante um estudo dessas 39 empresas que fecharam entre um relatório e outro. Por que fecharam? Elas foram sustentáveis em algum momento ou sempre estiveram no vermelho? Foram apenas fatores financeiros ou temos outras razões para o fechamento?

É preciso falar sobre o financiamento do jornalismo regional. A maioria das soluções digitais criadas neste século não servem para os jornais locais. Há um problema sério de escala. Regulamentar a mídia no Brasil e disciplinar a publicidade estatal pode ser um bom começo…

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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