A partir de agosto, o maior jornal do Brasil vai restringir a sessão de comentários no seu portal de notícias na internet. Apenas assinantes poderão comentar as matérias e não poderão ser usados apelidos para identificação: aparecerá o nome do assinante junto com o comentário. A decisão da Folha pode ser vista como radical no primeiro momento, mas é uma triste consequência e uma medida de proteção a selvageria que se tornaram as sessões de comentários dos sites e também nas redes sociais nos últimos anos.
A internet permitiu uma revolução na liberdade de expressão, quebrando o monopólio da emissão de informação, antes reservado aos veículos constituídos. O espaço de expressão do cidadão, antes espremido na área de artigos dos jornais ou em momento de abertura e enquetes de rádios e TV, ganhou novas proporções com a rede. Mais do que interagir diretamente com o veículo, comentando, analisando, rebatendo as informações publicadas, qualquer cidadão passou a ter o direito de ser dono do seu próprio veículo, seja com um blog ou mesmo com um perfil nas rede sociais.
O ônus dessa revolução na liberdade de expressão, como não poderia deixar de ser, é o uso indevido, irresponsável dessa liberdade. Em uma sociedade deseducada, onde o ensino é estritamente técnico e a formação cidadã é deixada de lado, as pessoas ainda não sabem o poder que as redes sociais, os espaços de comentários possuem e acabam escrevendo nele como se fossem conversas reservadas a conhecidos.
O resultado é assustador: mensagens de intolerância, preconceito, ameaças e uma cultura de ódio se prolifera como um a epidemia pela internet. Escondidos atrás de perfis falsos ou mesmo sem o conhecimento que podem ser responsabilizados judicialmente pelo que escrevem, odiadores pregam a barbárie principalmente quando o assunto envolve polícia ou política.
A bárbarie dos comentários de portais de notícias já fez o jornalista e professor Leonardo Sakamoto fechar a sessão de comentários. As ameças contra o jornalista, que é doutor em Direitos Humanos, saíram da internet e começaram a ocorrer fora, levando o autor a refletir sobre isso no livro “O que aprendi sendo xingado na internet”. O assunto também inspiração literária. O escritor Bernardo Carvalho traçou um perfil dos “comentárias de portais” no romance “Reprodução’, lançado em 2013.
Estamos chegando a mais um processo eleitoral, talvez no auge das redes sociais no país como o Facebook. A criação de perfis falsos para denegrir a imagem de adversários será, infelizmente, uma estratégia utilizada em todo o país. Além dos fakes, existem aqueles que se sujeitam a fazer o serviço sujo mostrando a cara, transformando o seu perfil na rede social em um verdadeiro bunker de guerra.
A decisão da Folha de São Paulo, há dois meses das eleições, é um alerta. A previsão é que a baixaria se intensifique nas próximas semanas e o jornal não pretende ser o palco dessa guerra seja que não interessa a ninguém.
Enquanto os jornais se protegem da guerra, é preciso começar a repensar a participação pública nos veículos digitais. A sessão de comentários em baixo de cada notícia precisa ser discutida. Ela realmente é um espaço de interação com os leitores? Possui alguma utilidade? Hoje qualquer cidadão pode se expressar montando um blog ou um perfil no Facebook, Twitter. Será preciso mesmo o espaço de comentários em baixo das notícias? E até quando vamos confundir liberdade de expressão com discurso de ódio?
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