O fim do Orkut, programado pela Google para o dia 30 de setembro é como o livro do Gabriel Garcia Márquez, a Crônica de Uma Morte Anunciada. Apesar de ainda ser expressiva no Brasil, a rede social que permitia a classificação de usuários por nível “sexy” estava com os dias contados há muito tempo. Mas para uma rede social, existe ressurreição?

Essa pergunta muitos fizeram nas últimas semanas, com a volta do ICQ. Na verdade, é a segunda vez que o falecido I Seek You ressurge das cinzas. Mas diferente de Eric Draven, protagonista do filme O Corvo, o ICQ não quis vingança e não fez mal para ninguém.

Na primeira volta, em 2008, o ICQ tentou recuperar o espaço perdido para o já falecido MSN. Não deu certo. Agora, o programa não quer competir apenas com o Skype em vídeo chamadas, mas também com o Whatsapp, o atual queridinho do público.

Vai dar certo? Só o tempo dirá. Se analisarmos as redes sociais e as modinhas da internet de hoje, o público não recebe muito bem os concorrentes dos famosos. O Facebook desbancou o Orkut no Brasil e o MySpace nos Estados Unidos não por ser melhor que o adversário, mas por propor uma forma diferente de interagir. O twitter se manteve com a avalanche do Facebook pelo mesmo motivo. É essencialmente diferente .

O que o ICQ tem para nos apresentar que vá fazer o povo migrar para ele? Está claro que, para a maioria do público, rede social boa é aquele que “está todo mundo”. O sucesso do Whatsapp no mundo inteiro e do Snapchat nos EUA dão sinais que os usuários estão preferindo redes sociais mais fechadas, reservadas. O ICQ entra nisso, ok. Mas e daí? O que ele tem de novo para oferecer?

O Flickr, da Yahoo, completou 10 anos no começo do ano. O site de fotografias não chegou a morrer, mas ficou internado em 2012, vendo o número de usuários cair drasticamente. Em 2013, passou por uma reformulação completa, dando 1 terabyte de espaço gratuitamente. O visual também foi alterado, dando cara de rede social, mas o que fez muita gente voltar para o site foi o espaço gigantesco. Clubes de futebol, por exemplo, estão todos no flickr, disponibilizando fotos em alta resolução para baixar.

Assim que o novo ICQ foi lançado, todos os usuários de redes sociais com mais de 25 anos foram baixar. Muitos queriam apenas ouvir novamente o nostálgico “uh oh”. Mas quantos desses usarão de fato a rede? Quem, ao enviar uma mensagem a um amigo, vai abrir o ICQ ao invés do Whatsapp?

Aguardamos os próximos capítulos para saber se o ICQ está realmente vivo ou é mais um zumbi que logo voltará para sua tumba, ao lado do Fotolog, do MySpace, do MSN, do Multiply e já já do Orkut.

publicado originalmente no blog da Seekr

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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