Os três maiores jornais do Estado de Santa Catarina vão deixar de existir a partir do final deste mês. O Diário Catarinense, de Florianópolis, o A Notícia de Joinville e o Jornal de Santa Catarina de Blumenau, todos do grupo NSC, serão substituídos por uma revista semanal feita em conjunto em todo o Estado. Os portais locais também perderão espaço para o NSC Total, a página do grupo.
A notícia não foi recebida como surpresa para quem trabalha no meio, visto que as redações dos três jornais eram enxugadas a cada ano e já sabia-se de um interesse do grupo NSC em vender ao menos os jornais A Notícia e Santa, ambos sem sucesso. Mas há um grande impacto nesta notícia, por causa dos fatores a seguir:
Muitos podem receber a notícia como um “os jornais impressos vão acabar, mesmo”. É fato que os media impressos não possuem mais a força e relevância do passado, que os custos de operacionalização de um jornal em papel são muito caros e que é desnecessário fazer um jornal diário em papel com notícias curtas que a cidade já soube no dia anterior pela internet.
O impresso não possui mais papel nos dias de hoje? Ou é possível pensarmos um novo modelo?
Uma cidade como Blumenau, que possui diversos sites de notícias, não precisa mais de um diário para dar “notinhas” e outras notícias sem profundidade. Mas será que não há leitores para um jornalismo mais trabalhado? Grandes reportagens, análises, artigos, crônicas, isto tudo não tem mais sentido em Blumenau? O blumenauense não gosta de ler? Ou não há ninguém oferecendo isso para ele se interessar?
As cidades em volta de Blumenau todas têm jornais impressos. Gaspar, Pomerode e Timbó possuem um bissemanário e um semanário cada. E em conversa com alguns de seus proprietários, não há interesse em deixar de circular no papel, apesar da crise financeira. Ainda há leitores e anunciantes.
Em comum, esses jornais da região metropolitana de Blumenau são administrados por pequenos empresários que têm no jornal o seu principal meio de sustento (quando não o único). Situação muito diferente da NSC, onde a principal atividade ainda é a televisão.
Mas o mais importante: são empresários locais, moradores de longa data (ou nascidos) nas cidades onde atuam. São jornais com identidade local, com características comunitárias, órgãos de imprensa com compromisso e participação local.
Nessas cidades (e em muitas outras do interior de Santa Catarina onde já atuei com consultoria) há muitos assinantes que assinam o jornal por uma ligação local, ou direta com o proprietário ou com a ideia de que é preciso apoiar o que é da cidade. Muita gente em Gaspar quer ver o Jornal Metas ativo, muita gente em Pomerode quer o Testo Notícias funcionando, publicando.
Alguém sairia em defesa do Jornal de Santa Catarina atual? Um jornal que vem perdendo sua identidade nos últimos anos, sendo uma cópia de AN e Diário Catarinense?
Desconfio de um modelo para o jornalismo regional que não tenha fortes laços com a comunidade onde atua. O grupo NSC optou por fazer isso ao, além de deixar de circular a versão impressa, trocar as versões digitais de AN, Santa e DC pelo NSC Total, um portal para toda Santa Catarina, um estado onde cada região tem a sua cultura própria e pouco interesse pelas outras.
O ClicRBS, portal de notícias do grupo RBS, pode até ter dado certo no Rio Grande do Sul, mas em Santa Catarina foi um fracasso. O grupo precisou investir nas versão digitais de Santa, AN e principalmente DC para ter relevância digital no estado. Os novos donos, da agora NSC, trocam as marcas conhecidas pelo mesmo erro cometido pelos gaúchos há mais de 10 anos.
O fechamento dos três jornais é uma notícia de grande impacto, sim! É um momento para pensarmos sobre o futuro do jornalismo regional em Santa Catarina. É um momento para Blumenau pensar: a cidade não quer mais um grande jornal impresso ou as pessoas que tocavam o jornal da cidade não tiveram a competência e/ou interesse em manter?
A resposta for a cidade quer ter, que modelo de jornal deve ser esse?
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