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Novo cenário político tem espaço para três candidaturas

O xadrez político brasileiro começou uma nova partida no dia 8 de novembro de 2019, com a liberação de Luís Inácio Lula da Silva. O ex-presidente dificilmente será candidato em 2022, mas sua liberdade permite a organização da oposição e antecipa ainda mais a campanha para a sucessão de Jair Bolsonaro.

Lula em campo possuirá todas as condições para reorganizar a oposição num único polo, que terá uma candidatura forte em 2022. Chamo aqui de POLO LULA que pode unir PT, PCdoB, PSB, PSOL e até mesmo o PDT (talvez sem os Gomes). Do outro lado, Bolsonaro ganha a oportunidade para reorganizar a casa e deixar a direitona apenas com ele de candidato, chamo aqui de POLO BOLSONARO.

Com dois polos fortes, a proliferação de candidaturas presidenciais em 2022 fica inviável. Uma terceira via ao lulismo e ao bolsonarismo só terá viabilidade de for concentrada em uma única candidatura. E como há muita gente poderosa contra Lula e Bolsonaro, a tendência só reste mesmo um candidato. Neste caso teremos:

POLO LULA ————————- TERCEIRA VIA ————————- POLO BOLSONARO

Os beneficiados e prejudicados INICIALMENTE neste cenário tripartite que se aproxima são:

Os beneficiados:

Lula é, obviamente, o maior de todos. Nem entra-se na discussão sobre a liberdade pessoal de um cidadão, ficamos apenas na parte política: Lula poderá viajar o Brasil inteiro e articular uma esquerda que estava até agora presa em Curitiba com ele. Se preso, Lula participou diretamente da campanha de 2018, nas ruas o seu protagonismo será ainda maior.

O desafio de Lula é unir a sua base e ter candidato viável para 2022. Ele sabe que não será novamente permitida a sua participação. A tendência é que, enquanto dirigentes petistas falem dele para 2022, o próprio vai negociando para ver quem pode ser seu candidato. Nomes possíveis: Rui Costa, governador da Bahia, e Flávio Dino, governador do Maranhão (que teria que trocar PCdoB pelo PT).

Bolsonaro também pode ganhar com a libertação de Lula. O presidente vivia um momento de desmanche da sua base, com brigas internas no PSL. A volta daquele que é no imaginário bolsonarista o grande inimigo permite ao presidente reconquistar e reorganizar a sua base.

O desafio de Bolsonaro será controlar os seus filhos para conseguir reorganizar a base. Todos os bolsonaristas em conflito com o Planalto apontam o dedo para eles, especialmente Carlos e Eduardo. Se não aproveitar o momento para unir sua base, Bolsonaro corre o risco de ser literalmente passado para trás por outra liderança à direita e com isso, o risco do impeachment aumenta.

Luciano Huck se quer é filiado a um partido, apesar de todos saberem da proximidade com o Cidadania (novo nome do PPS). Por que o apresentador da Globo pode ganhar com a volta de Lula. A polarização entre Bolsonaro e Lula diminui espaços para uma terceira via. Com dois lados bem fortes, é impossível tirá-los do segundo turno com vários candidatos a terceira via.

Huck leva vantagem sobre os seus concorrentes (nem Lula, nem Bolsonaro) justamente por não estar em partido nenhum, por ter o apoio da grande mídia brasileira e de parte considerável do establishment brasileiro. Seus concorrentes diretos estão muito mais próximos do polo Bolsonaro (Witzel e Dória) e do polo Lula (Ciro), o que facilita a disputa no meio.

Quem sai atrás

João Dória (PSDB) se elegeu com o bordão BolsoDória. Assim que viu o governo de Bolsonaro ir mal, optou por moderar o discurso de olho numa terceira via. Mas o fato é que o governador paulista é muito identificado com a direitona brasileira e o candidato que quiser ser bem sucedido na terceira via precisa de um discurso mais ao centro.

Dória se elegeu prefeito de São Paulo atacando Lula dia sim, dia não. Mas esse papel nacional já é de Jair Bolsonaro. É muito difícil para o governador paulista passar um discurso de centro. Por isso, larga atrás neste cenário tripartite que se aproxima.

Wilzon Witzel (PSC) é outro que se elegeu na onda bolsonarista e buscou descolar a imagem nos primeiros meses de governo. Ao contrário de Dória, que busca a moderação, Witzel engrossou o coro à direita como governador do Rio de Janeiro, mesmo buscando distãncia de Bolsonaro.

Por isso, suas chances de virar candidato a presidente em 2022 são fraquíssimas. Se manter a distância do bolsonarismo pode até perder a reeleição para governador.

Ciro Gomes (PDT) é ideologicamente muito próximo de Lula. Mas os egos dos dois são grandes demais para serem parceiros. Candidato frustrado em 2018, Ciro buscava criar uma força política de centro-esquerda longe do petismo para 2022. Esse plano ficou muito complicado com a liberação de Lula, que terá todo tempo do mundo para articular.

Se tentar buscar uma candidatura pela terceira via, Ciro terá muita dificuldade pois seu nome é muito ligado às esquerdas. Como ninguém imagina que ele possa ser o candidato lulista, suas chances foram bem reduzidas.

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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