O governo federal, o Estado do Rio Grande do Sul e os municípios irão gastar bilhões de recursos públicos nos próximos anos. Afinal, o Rio Grande precisa ser reconstruído depois de uma das maiores tragédias climáticas da história do Brasil. Mas e a fiscalização pós tragédia? Quem fiscalizará se os recursos foram bem aplicados?
As redes sociais estão em surto coletivo desde o início dos trabalhos de resgate. A ânsia por denunciar um governo rival resultou em uma enxurrada de notícias falsas e desinformação. As fake news vão desde uma confusão entre notificar e impedir o tráfego de caminhões de doações até um cidadão acusar a proibição de distribuição de donativos. Ele mostrava um galpão vazio enquanto os voluntários trabalhavam e orgnizavam a distribuição em outra parte, não filmada.
Podemos presumir que o festival de ataques e desinformação continuará e se ampliará quando as águas baixarem. Por que? Por e as obras, a parte mais cara dos gastos públicos, irão começar. E como estamos em ano de eleições municipais, a guerra será local, com inúmeras denúncias contra prefeitos por parte de opositores, e contra os governos estadual e federal, por parte de aliados dos prefeitos.
Portanto, pergunto novamente? Quem fiscalizará as obras? Mas eu digo fiscalizar de verdade. E quem fiscalizará os fiscalizadores das redes sociais? Primeiramenete, já é muito difícil combater as fake news sobre temas nacionais, com várias agências de fact-checking atuando no Brasil. Mas não há como essas agências acompanharem o dia-dia de cada município do Rio Grande do Sul.
Existe um negócio invenado há muito tempo que tem como um dos seus objetivos, fazer este tipo de fiscalização: chama-se jornalismo. E no caso da fiscalização pós tragédia nos municípios, chama-se jornalismo local, ou jornalismo regional, ou mesmo jornalismo de proximidade.
Um meio de comunicação local com jornalistas profissionais, com credibilidade, é essencial para combatermos não somente as fake news, mas os eventuais (e prováveis) desvios de recursos em obras de recuperação. A importância do jornalismo costuma ser mais visível para todos em tempos de tragédias. Neste caso, ressalto o jornalismo local.
Os jornalistas locais já estão sendo fundamentais neste momento. São os primeiros a noticiar os problemas, os responsáveis por toda a informação de serviço público em cada cidade. E portanto, serão os primeiros a fazer a fiscalização pós tragédia…nas pequenas cidades, os únicos.
Como estão os jornais locais? Ora, quebrados e sem boas perspectivas no horizonte. Antes de tudo, todo o jornalismo local passa por dificuldades financeiras em 2024, o que esão em são exceções. Além disso, os jornais vivem de publicidade, os jornais locais, do comércio local.
E todos nós sabemos que o comércio local das cidades não estarão em condições de apoiar o jornalismo local em 2024. Ora, muitos comércios estão com as portas fechadas, com as salas cheias de água e o cenário é muito, mas muito nebuloso.
Portanto eu pergunto: como o jornal local pode ser um agente de fiscalização pós tragédia se sua principal fonte de receita está sem condições de fazer a sua parte? Apoio do governo? E que jornal pequeno teria coragem de denunciar quem está pagando suas contas?
O que fazer? Ajudar o jornalismo local, contribuir com quem faz jornalismo de verdade no interior. Muitos comércios, a agricultura, a indústria, todos serão ajudados com linhas de financiamento para reeguer o Rio Grande do Sul. Os jornais, principalmente os pequenos locais, precisam de ajuda também.
Decidi escrever este artigo após um comentário do jornalista Sérgio Ludtke no antigo twitter. Ele apresentou uma lista de iniciativas jornalísticas independentes gaúchas. E este blog está aberto para receber outras sugestões
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