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O problema vai muito além do corte de 30%

FOTO: Mídia Ninja

Cortar recursos em tempos de crise é normal em governos democráticos. Cortar recursos na educação é normal no Brasil, um país onde a educação raramente é tratado como prioridade. Mas há um ponto importante a ser destacado nos protestos dos estudantes contra as “balbúrdias” praticadas no Ministério da Educação: o ataque ideológico as universidades.

Todos os governos anteriores cortaram da educação. O governo Dilma cortou o orçamento do MEC nas vésperas do primeiro grande protesto que pediu seu impeachment, em março de 2015, ou seja, ajudou os manifestantes. A diferença do que acontece agora com os governos anteriores é que SÓ ESSE TEM ORGULHO EM CORTAR DINHEIRO PARA A EDUCAÇÃO.

Vamos aos fatos: primeiro, o ministro Weintraub cortou recursos de três universidades alegando explicitamente razões ideológicas. Afirmou que UnB, UFBA e UFF praticavam balbúrdia e por isso perderiam recursos. Depois, estendeu os cortes para todas as universidades. Depois, cortou os institutos federais e até a educação básica levou tesourada.

Parte do governo começou a alegar questões financeiras, com o argumento que os cortes eram necessários para colocar as contas do governo em ordem. Foi isso que os governos anteriores alegaram (e ainda sim, sofreram desgaste político).

Mas a atual gestão mantém o discurso contra as universidades. A máquina de fake news do bolsonarismo voltou a funcionar para atacar as federais. Militantes governistas chamam alunos de maconheiros, vagabundos e o próprio Weintraub vai à Câmara Federal para atacar as instituições de ensino.

Cada vez que o governo ataca as universidades por razões ideológicas, ele joga fora o argumento que os cortes eram necessários por questões financeiras

REAÇÃO DESASTRADA

Se os ataques ideológicos às universidades federais já irritaram os brasileiros, fato que impulsionou os protestos, a reação do presidente foi pior ainda. Bolsonaro comete o mesmo erro do petismo em 2013 e 2015, que considerava que as manifestações de rua eram formadas apenas por inimigos declarados do governo. Pior, Bolsonaro se elegeu prometendo acabar com o viés ideológico e o que se viu nos quatro meses foi apenas brigas ideológicas.

Ao considerar todo mundo que protestou como gente de esquerda, Bolsonaro ajuda seus adversários políticos. Se as esquerdas souberem trabalhar para que todos participem da manifestação sem precisar aderir ao “Lula Livre”, por exemplo, os protestos podem crescer.

Para um governo de natureza populista, que passou quatro meses brigando e desarticulando com o Congresso, ter as ruas gritando contra é a pior coisa que pode acontecer.

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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