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Paywall da Google, solução ou controle total?

Aumentar as receitas do jornal junto aos seus leitores, seja com assinatura, seja com contribuições. Um dos grandes desafios para os pequenos jornais ganhou um aliado importante: O Paywall da Google permite que qualquer jornal online possa implantar um muro de pagamentos ou um sistema fácil de financiamento coletivo. Mas vale a pena deixar tudo nas mãos da Google?

Sou desenvolvedor de sites em WordPress desde 2009 e implantar um paywall sobre foi um desafio. A maioria das ferramentas são pagas e os donos dos jornais não gostam ou não têm como pagar muito para isto. Você difícilmente encontra paywalls em jornais online pequenos. No Brasil, os jornais optam por um conteúdo 100% gratuito. Contudo, em Portugal, os conteúdos ficam mais restritos às edições impressas.

Então, a Google lançou este ano o Reader Revenue, uma ferramenta para jornais cadastrados no Google News captarem receita junto os leitores. Assim, o editor cadastra o jornal, recebe um código para colocar no site e decide se vai implantar paywall ou apenas um serviço de financiamento coletivo recorrente. A proposta da Google é qualquer pessoa poder aplicar e administrar o serviço, sem a necessidade de conhecimentos mais específicos.

Reader Revenue, o paywall da Google

O custo é 5% por transação. Tanto o pagamento pelos leitores, quanto a administração dos recursos recebidos são feitos pelo Google Pay. A Google disponibilizou o serviço os EUA, Brasil e outros países, porém, AINDA NÃO DISPONÍVEL EM PORTUGAL E UNIÃO EUROPEIA.

Paywall da Google, Ads da Google, Analytics da Google…

Com o Reader Revenue, a Google completa o kit de ferramentas para produtores de conteúdo. Nesse sentido, é possível um projeto jornalístico funcionar basicamente a partir das ferramentas da big tech. Publicidade? AdSense. Estatísticas? G. Analytics. Propaganda? Ads. E agora, paywall ou financiamento coletivo? Reader Revenue.

Até mesmo no controle de privacidade, uma obrigação na Europa (e futuramente no Brasil), a Google oferece um serviço. Se você está acessando este blog na Europa, visualizou uma janela sobre consentimento ao abrir. A pergunta é: o quão perigoso é deixar tudo nas mãos de uma única plataforma?

Primeiramente, é preciso lembrar que a comunicação social (jornais, rádios, emissoras TV, portais online) já havia perdido o controle da mediação da informação para as plataformas digitais como Google, Facebook, TikTok. As bigtechs que controlam, por meio das redes sociais, as discussões públicas e o que vira assunto hoje em dia. Porém, a dependência do jornalismo para a Google pode ficar ainda maior com o Reader Revenue.

Ou seja, os jornais passam a depender da Google para serem vistos, para administrar sua audiência, para obter receitas publicitárias e receitas com leitores. Todas essas informações são controladas e administradas pela empresa, que ganha muito, mas muito com isso.

Brasil 247 e o PL 2630

Este blog já abordou o PL 2630, que pretende regular as plataformas digitais no Brasil. A Google foi uma das empresas que mais trabalhou no lobby contra o projeto. A Google apresenta ferramentas para auxiliar o jornalismo, mas quer manter o controle deste apoio. Ora, por que dar dinheiro diretamente para os jornais se você pode ajudá-los e ainda controlar toda a informação?

No site do Paywall da Google, há um caso de sucesso de um jornal brasileiro, o Brasil 247. Coincidentemente, o jornal que mais ficou do lado da Google, contra o PL 2630. Desse modo, a Google possui um garoto propaganda, um jornal que aplicou todo o kit da empresa e saiu satisfeito.

Por fim, é preciso pontuar: o objetivo deste artigo é levantar o debate. É óbvio que a ferramenta da Google é muito interessante, principalmente para pequenos jornais, não contemplados devidamente no Google AdSense. Mas é preciso ficar atento: jornais nunca devem depender de apenas uma única fonte de receita. E isto inclui uma única empresa com várias ferramentas para ganhar dinheiro.

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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