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Pioneiro no combate ao racismo, Vasco não pode ser homofóbico

Pela primeira vez na história do futebol brasileiro, uma partida foi interrompida por causa de gritos homofóbicos por parte de uma torcida. O caso ocorreu no final de agosto, na partida entre Vasco e São Paulo pelo Campeonato Brasileiro. O juiz parou a partida no primeiro tempo porque a torcida do Vasco gritava frases homofóbicas para o time adversário.

O técnico cruzmaltino Vanderlei Luxemburgo pediu e a torcida atendeu, encerrando os gritos. O jogo foi reiniciado e o caso foi colocado na súmula do árbitro. A justiça esportiva brasileira vai analisar a partir do que foi colocado na súmula, porém a tendência é que não ocorra uma punição ao clube, já que foi o primeiro caso e os gritos foram encerrados assim que o jogo parou.

Resposta histórica na sede do Vasco

Trata-se de algo inédito no futebol brasileiro e podemos estar diante do início de uma nova fase no nosso futebol. O combate a homofobia chega a um dos núcleos mais homofóbicos da sociedade brasileira. E o Vasco, pioneiro no combate ao racismo, precisa ser cobrado.

Homofobia no futebol

A homofobia no futebol brasileiro é absurda. Ser chamado de homossexual é ainda uma ofensa grave entre os torcedores, tanto que São Paulo e Fluminense são chamados pelas outras torcidas de “time de viado” e as direções dos clubes pouco agiram até hoje para combater isso.

Nenhum jogador de futebol é homossexual declarado. Um ex-jogador de São Paulo e Atlético Mineiro tinha fama de afeminado e era alvo constante das torcidas. Se ele era homossexual mesmo, ninguém sabe. Pois se fosse, não havia espaço para se assumir. Um jogador do Corinthians deu um “selinho” num amigo em uma foto de combate à homofobia e foi cobrado pela própria torcida.

O Vasco e o racismo

Afirmar que o Vasco foi o primeiro clube brasileiro a ter jogadores negros é arriscado, devido ao tamanho do país e a falta de informações no início do século XX. Mas é fato que o clube foi pioneiro no combate ao racismo, ao montar um time de negros e pobres nos anos 20 e optar não deixar uma liga de clubes cariocas após exigirem a saída destes jogadores do elenco.

O clube possui orgulho da sua história: a carta de resposta à liga, onde recusa tirar os negros virou placa na estrada do estádio de São Januário), a direção já fez camisas especiais em alusão aos anos 20 e a torcida faz cantos lembrando o combate ao racismo. As origens humildes do clube e participação na popularização do futebol (até os anos 20 um esporte de elite) também são ressaltados.

Como vascaíno, gostaria de ver o clube tomar a iniciativa também no combate à homofobia. O clube, que nos últimos anos foi administrado pelo reacionário Eurico Miranda, jamais cogitou isso. Agora, com a regra de proibir cânticos homofóbicos vindo da Fifa, a chance de um protagonismo se foi. Ainda sim, é inaceitável que o clube aceite comportamentos homofóbicos, seja qual for. É inaceitável que uma torcida que canta que “já lutou por negros e operários”, mantenha coros preconceituosos.

Fica a pergunta: quando algum jogador homossexual decidir se assumir publicamente, como o seu clube reagirá? Como sua torcida reagirá?

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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