Normalmente as eleições municipais servem como termômetro para as eleições estaduais e nacionais que ocorrem dois anos depois. Em 2020, o resultado das urnas mostra que a disputa para 2022 está completamente em aberto: os partidos sem candidato a presidente são os maiores vencedores e os postulantes ao cargo saíram frustrados e derrotados.
O DEM é o grande vencedor nacional, com as prefeituras do Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba e Florianópolis. Partidos como Progressistas, Avante, Republicanos e PSD também sairão maior das urnas. O que eles têm em comum? São partidos do Centrão, a velha direita brasileira e não possuem hoje, um candidato a presidente.
O DEM flerta abertamente com presidenciáveis como João Dória (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) e tem um arsenal para negociar uma candidatura a vice. Um detalhe importante do DEM: dos quatro prefeitos de capitais eleitos citados, três estavam no PMDB e um no PMN em 2016. É um novo DEM, que mais parece o PMDB que aquele velho PFL.
Dos outros quatro partidos ditos vencedores, Progressistas e Republicanos podem sonhar com um candidato a presidente: no caso, Jair Bolsonaro, que pretende estar filiado a uma sigla até o fim de março. O Progressistas é a opção mais Centrão, fisiológica/populista. O Republicanos é a opção mais conservadora, religiosa, ideológica. Os demais, ou todos, caso Bolsonaro consiga viabilizar a Aliança pelo Brtasil, negociarão por uma força muito menor ao DEM.
O PSOL vibra o surgimento de uma liderança nacional como Guilherme Boulos, que uniu as esquerdas no segundo turno, apesar da derrota em São Paulo. E ainda comemora a entrada nas capitais com Belém. O sucesso de vereadores e novas lideranças deve colocar a sigla em outro patamar em 2022, mas ainda longe de disputar a presidência.
Jair Bolsonaro pode optar por um Progressistas ou Republicanos em 2022. Mas o saldo de 2020 é muito negativo. Quem o presidente apoiou diretamente perdeu. A principal lição é que a onda de raiva 2016/2018 passou. Se quiser continuar no cargo, Bolsonaro vai precisar aprender a fazer política partidária. Os dois partidos citados são caminhos.
João Dória (PSDB) comemora a reeleição de Bruno Covas (PSDB) em São Paulo. E só. O desempenho dos tucanos no país foi muito fraco, com perda de cidades como Porto Alegre. O partido que já governou o país em dois mandatos corre o risco de virar um partido regional paulista. E isto tira o poder de fogo para negociar com o agora poderoso DEM, que pode procurar um antigo mais interessante para apoiar.
O lavajatismo não elegeu praticamente ninguém nestas eleições e Sérgio Moro ficou ofuscado. O ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro continua sendo adorado por parte da imprensa, mas tem pouca força popular. Um destino provável seu, o Podemos, não foi relevante, tirando a vitória em São Luís. Assim como Bolsonaro, Moro vai precisar aprender a fazer política partidária.
Ciro Gomes (PDT) comemora a eleição de Sarto (PDT) em Fortaleza. E só. O PDT não conseguiu avançar nas eleições, assim como o aliado PSB, que basicamente manteve Recife. Ser o partido com mais prefeitos na esquerda é pouco para os brizolistas. Ciro sonha em ter o DEM de vice, mas o resultado fraco deve dificultar a obtenção deste apoio.
O PT ensaiou um renascimento no segundo turno com disputas em 15 cidades, mas perdeu a maioria delas. Ficou sem capitais e com um tamanho ainda menor que 2016. Para piorar, a sigla continua sem candidato a presidente. Insistir em Lula não levará o partido a lugar algum.
Outros nomes apontados como presidenciáveis precisam repensar suas estratégias por inteiro. Flávio Dino (PCdoB) viu o seu partido praticamente sumir do mapa nos municípios e ainda terá a capital do Maranhão nas mãos de um adversário. Luciano Huck sonha em ser um candidato de centro-direita moderno, urbano, apolítico. Ninguém com esse perfil ganhou no Brasil.
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