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Triste? Decepcionado? O primeiro turno das eleições municipais deveria ser esperado

O Facebook se tornou um muro de lamentações da esquerda (e parte da centro-direita também) após os resultados do primeiro turno das eleições municipais. De Norte a Sul do país, é possível constatar a falta de mudanças, o crescimento de personalidades pitorescas e um número muito alto de brancos, nulos e abstenções. Todos nós já sabíamos que isso poderia acontecer, mas a esperança nos cegava da realidade.

O número alto de bancos, nulos e abstenções era óbvio. O brasileiro nunca levou muito a política partidária a sério e perdeu ainda mais a vontade com o noticiário dos últimos anos. Apesar de estarmos vivendo o não o auge da corrupção, mas o início de uma limpeza, o fato de as pessoas passarem a entender como funciona o meio político afasta o eleitor das urnas. As pessoas sabiam que isso existia, mas não queriam detalhes. Agora estão com nojo. Se a maioria da população soubesse que a regularização do título é rápida e custa menos de R$ 5, as abstenções seriam muito maior.

Se a maioria dos eleitores de São Paulo preferiu não votar ou anular/branco, era possível esperar que um candidato que viesse com um discurso anti política fosse o vencedor. Dória tem a cara do coxinha, do empresário mauricinho, mas não tem cara de político. Bastava ele uma campanha bem feita e deixar o serviço sujo de destruir a imagem do PT para aqueles de sempre.

A mesma São Paulo que elegeu o Dória elegeu o Suplicy vereador com mais de 300 mil votos. Apesar da experiência pública de décadas, o ex-senador do PT continua passando a imagem de outsider do meio político.

O Rio de Janeiro, onde a esquerda deposita todas as suas esperanças, também prova isso. Um bispo da Universal e um candidato do PSOL no segundo turno é a prova que o discurso anti-establishment está na moda. O Rio não colocou PT, PMDB, PSDB e outros partidos tradicionais no segundo turno.

O Freixo é a nova força da esquerda justamente porque é diferente. Ele consegue captar a juventude indignada pelo formato político atual.  Se ele ganhar o segundo turno, o Rio de Janeiro será a base para a esquerda no país todo, como foi o governo de Olívio Dutra (PT) em Porto Alegre entre 1989 e 1992.

Com uma campanha diferente, sem recursos de empresa, com pouco espaço para divulgar, as cidades que não possuíam alternativas contra o establishment mantiveram os mesmos. Em Blumenau (SC), o destaque na Câmara foi Bruno Cunha (PSB), que fez uma campanha sem destacar o partido pelo qual é filiado, sem utilizar os termos da velha política.

O sistema político tradicional está falindo no mundo todo. Syriza na Grécia, Podemos na Espanha e Marcelo Freixo no Brasil são exemplos da esquerda que acorda para este novo momento. Trump nos Estados Unidos, Movimento Cinco Estrelas na Itália são exemplos da direita que também sai do modelo tradicional, apelando a uma veia neopopulista.

Os momentos de crise são propícios para o crescimento dos partidos extremistas. Os mais ligados ao Centro precisarão se reinventar.

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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