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Vacinas da Covid-19: foco na campanha, não na obrigação.

As campanhas de vacinação contra a Covid-19 começam no mundo inteiro e no Brasil a anti-campanha de Bolsonaro pode ser mais maléfica do que a própria desorganização do governo. Discutir obrigatoriedade da vacina é uma armadilha que vai causar estragos ao país.

Nos Estados Unidos e na Europa, a vacina não é obrigatória, mas os governos estão empenhados em fazer campanhas para conscientizar a população. Até o governo de Trump fará uma campanha para convencer os americanos a tomar.

Por que campanhas para conscientizar? Porque é normal haver uma dúvida sobre um medicamento novo. Em Portugal, apenas 61% dos portugueses afirmam que querem tomar a vacina assim que estiver disponível. São 32% os que cogitam esperar ou mesmo não tomar.

Ainda sim, o governo português já reservou, junto a União Europeia, 22 milhões de doses de vacinas para 2021, isto dá para toda a população e sobra. Aquela ideia: convencer o cidadão a tomar e garantir que ela esteja disponível.

Problemas no Brasil

O governo brasileiro só acertou com um fabricante de vacina até agora: a Astrazeneca. Estamos falando de 210 milhões de pessoas, ou seja, 420 milhões de doses. O país está muito longe de conseguir disponibilizar vacinas para toda a população em 2021.

Por motivos eleitorais, Bolsonaro não aceita que uma vacina venha pelo Butantan, ou seja, pelo governo paulista de João Dória (PSDB). Esqueça a lorota da China, do PCC. O problema do presidente com a Coronavac é o Dória.

Na incapacidade de disponibilizar vacinas para todos e na birra de não aceitar ajuda paulista, Bolsonaro optou pelo pior caminho: uma campanha anti-vacinação. E o assunto obrigatoriedade está sendo usado a favor desta campanha negativa.

O que é obrigatoriedade?

Ninguém vai ser preso por não tomar a vacina, nem pagar multa por isso, muito menos ser forçado fisicamente a tomar. Quando governadores e políticos recorrem ao STF sobre a obrigatoriedade da vacina (algo previsto na lei aprovada por Bolsonaro) é de poder fazer restrições com quem negar a tomar.

Exemplo: quem não tomar a vacina ser impedido de inscrever em faculdades públicas, fazer concursos, receber o bolsa-família. Permitir que uma empresa possa demitir um funcionário por recusar a tomar a vacina. São medidas que não obrigam o cidadão a se vacina, mas conduzem a isso.

Governadores querem ter o poder de fazer isso caso o governo não opte, é isto que está a ser debatido no Supremo. Você vacina se quiser, mas se não quiser, arque com as consequências. Argumento: saúde pública.

A campanha de Bolsonaro

O governo federal está mostrando ser incapaz de gerir um plano nacional de vacinação que permita o acesso a toda a população. Vem demonstrando incompetência para conseguir essas vacinas em 2021. O que o presidente faz? Aposta em uma campanha para desestimular a população a se vacinar.

Descredibilizar os laboratórios e colocar medo na população é o primeiro passo. A história da obrigatoriedade entra no jogo. Confunde-se a população a ponto de ela achar que os governadores querem forçar fisicamente todo mundo a se vacinar.

Cria-se um debate fake sobre obrigatoriedade, deixa a população confusa, com medo e com isso diminui o interesse pela pelas vacinas. Assim, diminui-se a pressão para que o incompetente governo arrume doses para todo mundo em 2021.

Bolsonaro é o único líder de um país no mundo que diz não querer tomar a vacina. Este debate não existe na Europa, nos Estados Unidos. Existem sim, os conspiracionistas anti-vacina, mas nem Trump, nem Putin, nem nenhum lider mundial apoia esses loucos.

No Brasil, os anti-vacina tem o apoio explícito do presidente da República, do gabinete do ódio com suas campanhas nas redes sociais e de colunistas chapa-branca que fazem malabarismos retóricos para defender o governo em qualquer situação.

Ter um presidente na linha de frente desta estúpida campanha é perigosíssimo. Não será apenas a horda de fanáticos apoiadores que será atingida, influenciada por este discurso. Os resultados podem ser catastróficos….

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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