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28 de July de 2020

Deserto de Notícias e a saída do jornalismo comunitário

No dia 15 de novembro, milhões de brasileiros irão às urnas para eleger prefeitos e vereadores de mais de 5 mil municípios. Devido a pandemia do coronavírus, as campanhas eleitorais devem ser ainda mais digitais, focadas em redes sociais. E para os habitantes de mais de 60% dos municípios, a fonte de informação será mesmo as redes sociais e as conversas no dia-dia, afetadas pela pandemia, pois essas cidades não possuem NENHUM MEIO DE COMUNICAÇÃO LOCAL.

Em vermelho, as cidades sem meios de comunicação. Fonte: Atlas da Notícia

As informações foram publicadas pelo Atlas da Notícia no final de 2019, ou seja, antes da pandemia do coronavírus. São 62,6% de municípios sem cobertura noticiosa, quase todos pequenas cidades no interior do Brasil, mas correspondendo a 18% da população.

A maior parte do deserto de informações está nas regiões Norte e Nordeste e nos municípios por piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Florianópolis (SC) é a capital brasileira com maior quantidade de veículos por habitante: 16,6 para cada 100 mil habiantes. Mas há cidades como Canela, na Serra Gaúcha, de bom IDH, também sem nenhum jornal ou rádio.

Pandemia e o agravamento da crise

O deserto de notícias detectado no Brasil e em outros países do mundo como os Estados Unidos tem origem em vários fatores, mas destaca-se a crise financeira enfrentada pelo jornalismo em geral, mas com sérios agravantes no local.

A situação está piorando muito neste ano e ainda não há uma luz no fim do túnel. Com a pandemia, o comércio sofreu sérias restrições e entrou em crise, sobretudo o pequeno comércio local, fonte de receita de jornais locais. As prefeituras também perderam receitas e diminuíram suas publicidades nos jornais.

O resultado é catastrófico: em Santa Catarina, um dos jornais mais tradicionais do interior, o Correio Lageano, fechou as portas com a pandemia. Segundo o jornalista e pesquisador Carlos Castilho, 330 empregos de jornalismo foram extintos somente na primeira semana de maio nos Estados Unidos e a revista digital Vice reduziu sua redação no mundo inteiro, demitindo toda a equipe no Brasil.

Jornalismo comunitário pode ser uma saída?

Repensar modelos de negócios para o jornalismo local em cidades onde há deserto de notícias é um desafio porque, para muitos, desafia a lógica comercial. Como revelou o Atlas da Notícia, a maioria das cidades sem jornais são pobres, não há atividade econômica suficiente para sustentar uma empresa jornalística que vise lucro.

A saída, neste caso, pode ser a criação de modelos não lucrativos, comunitários para funcionar o jornalismo. No artigo Escaping the news desert: Nonprofit news andopen-system journalism organizations, os pesquisadores americanos Patrick Ferrucci e Kathleen Alaimo, da Universidade do Colorado, analisam o caso de um jornal no interior do estado americano que estava no “deserto de notícias”.

A cidade, de menos de 10 mil habiantes, decidiu ter o seu próprio jornal e criou o Sun, uma publicação sem fins lucrativos, criada pela comunidade, mas que contratou e paga profissionais para desenvolver um semanário impresso e diário digital.

Apostando em uma relação ainda mais próxima com a comunidade, com doações, participação em conselhos editoriais e fora da lógica de um proprietário único, a publicação conseguiu estabelecer-se no mercado, preenchendo a lacuna deixada por publicações tradicionais que fecharam.

Ferrucci e Alaimo explicam no artigo como o Sun tornou-se um membro da sociedade, possui interação direta com os outros agentes da comunidade onde o meio está inserido, sem perder o rigor editorial. Isto claro, passa por uma comunidade que deseja ter um jornal para chamar de seu, algo que nem sempre vai ocorrer nas cidades onde há o deserto de notícias.

“Se uma organização de notícias quer se tornar parte da estrutura de uma comunidade, ela não deve isolar das partes interessadas da comunidade; em vez disso, uma abordagem de sistema aberto poderia tornar todas as instituições sociais acreditam que contribuem para fortalecer a democracia e têm um lugar na esfera pública”, concluem Ferrucci e Alaimo no artigo.

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