“Nós temos que, antes de acessar o Facebok ou outra rede social, entrar nos sites dos jornais e veículos de comunicação de credibilidade”. A frase é do jornalista Alexandre Brito, subeditor de Informação da emissora RTP de Portugal, dita durante o Congresso Internacional de Jornalismo e Dispositivos Móveis (JDM), promovido e sediado na Universidade da Beira Interior em Portugal.
A ideia de Brito era que o jornalismo deveria ter essa prioridade como uma meta, tanto para os profissionais quanto para o público. Hoje, é comum que o cidadão, ao acordar, tenha como um dos seus primeiros hábitos, ver o feed de uma rede social (Twitter e Facabook, principalmente).
Perguntei então, para o subeditor da RTP e para os outros jornalistas que participavam do debate: como convencer o público a acessar o site de um jornal primeiro se a maioria dos planos de celulares não descontam a franquia das redes sociais? Como convencer o cidadão a acessar o site do jornal se muitos portais trabalham com o Instant Articles, ou seja, com o conteúdo dentro do Facebook, sem descontar da franquia?
A partir desta pergunta, abri um debate (no próprio Facebook) que amplio aqui no blog: usar ou não o Instant Articles? É certo entregarmos o conteúdo que produzimos para a plataforma de Mark Zuckerberg em troca de likes e mais visualizações? O Facebook já é a maior rede social, se o público majoritariamente preferir ler textos no Instant Articles (por ser mais rápido de abrir, sem custos adicionais, etc), vamos aceitar que a rede social controle todo o fluxo de notícias do mundo? É seguro deixar na mão do algoritmo?
A discussão é pertinente pois no momento o Facebook anuncia que pretende combater os sites que difundem notícias falsas usando as redes sociais. São páginas que não possuem credibilidade, mas que ganham relevância no algoritmo da rede social. O Face foi acusado de acabar ajudando na eleição de Trump, pois vários sites souberam usar o algoritmo para espalhar notícias falsas em prol do candidato republicano.
Diego Queiroz Andrade, um dos editores do diário português Público, participou do debate e afirmou que a desinformação causada nas redes sociais podem não terem sido tão decisivas no caso das eleições americanas, mas foi fundamental no referendo inglês que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit). Já Alexandre Brito entende que o jornalismo errou no passado, não soube acompanhar as novas tecnologias e hoje paga por isso, no caso, vê uma rede social cada vez mais forte controlando as informações no mundo.
A dependência dos jornais com o Facebook é tanta hoje, que segundo Andrade, alguns veículos portugueses chegam a ter 80% do tráfego com origem na rede social. Ou seja, uma mudança no algoritmo de visualização na timeline dos usuários pode derrubar toda a audiência do jornal na web.
Afinal, o jornalismo online é hoje dependente do Facebook? Como um veículo na web, que produz conteúdo para mobile, pode ser independente da rede social, tornando ela apenas uma ferramenta de divulgação? Ou jogamos a toalha e esperamos o movimento do público nos próximos anos?