Há um pouco mais de um mês comentei aqui no blog que o Deserto de Notícias atinge 62% dos municípios brasileiros. Em suma, trata-se de um termo com origem nos Estados Unidos para designar cidades que não possuem nenhum meio de comunicação social. Nem jornal impresso, digital, rádio ou televisão.
O Atlas da Notícia apresentou os dados no Brasil. Como pesquisador do projeto Re/media.Lab da Universidade da Beira Interior, decidi levantar informações a respeito do cenário português. Por isso, eu divulgo neste artigo, os primeiros dados do levantamento em Portugal.
Portugal possui 18.5% dos municípios na situação de deserto de notícias. Dos 308 concelhos, 57 não possuem nenhum jornal, rádio ou televisão. São, em sua maioria, vilas sem uma representação midiática local que poderia, por exemplo, fazer uma mediação importante nas eleições municipais a serem realizadas em 2021.
Para fazer este levantamento, utilizou-se os dados fornecidos pela Entidade Reguladora da Comunicação (ERC). Todo jornal precisa estar cadastrado na ERC em Portugal, um fato que facilita a pesquisa.
Os dados são do dia 28 de agosto, última atualização da ERC. Portugal possuía na data, 1747 meios de comunicação impressos e digitais, além de 327 operadores de rádio e 63 de televisão. São 760 jornais regionais e 319 rádios locais ou regionais.
Os 57 municípios que estão no Deserto de Notícias revelam um pouco do cenário socioeconômico do país. O país é dividido em 20 distritos, sendo que os cinco distritos mais populosos são aqueles menos atingidos pelo deserto. Porto, Aveiro e Braga, regiões que além de populosas, são ricas, não possuem município sem mídia. Viana do Castelo e Setúbal, também no Litoral, não são atingidos pelo deserto.
O distrito de Lisboa possui apenas um concelho. Nos distantes distritos de Portalegre (região do Alentejo) e Vila Real (Norte), o deserto de notícias aumenta. Portalegre é o distrito menos populoso do país
Apenas dois concelhos litorâneos entraram no deserto de notícias, ambos no Algarve. Dos demais, todo o litoral é coberto por um meio local em cada concelho. Quanto mais para o interior, maior o número de cidades sem mídia.
Das cinco regiões de Portugal continental, o Alentejo é que possui maior número de cidades sem mídia. A palavra desertificação, neste região, tem múltiplos sentidos, pois a região também sofre com a desertificação populacional e climática. Obviamente que em uma região com poucos habiantes e pouca infraestrutura, as chances de um jornal sobreviver são muito menores.
Distritos mais afetados
Distritos menos afetados
Por regiões
Estudar desertos de notícias é apenas uma parte da minha pesquisa sobre modelos de negócios para o jornalismo local, área escolhida na minha tese de doutorado e também inclusa no projeto Re/media.Lab. A crise econômica gerada pela pandemia da Covid-19 deve afetar o mercado de comunicação no mundo inteiro e as primeiras pesquisas a respeito já foram publicadas em revistas.
No caso do deserto de notícias, ainda é cedo para falar, as consequências ainda serão sentidas pelos media nos próximos meses. Portanto, a proposta aqui é produzir duas pesquisas: uma em andamento, cujo post é uma parte dele, com o cenário atual e outra para ser feita daqui a um ano, para poder saber se o deserto aumentou ou não com a pandemia.
O que já pode-se adiantar nesta postagem é indissociável ligação entre o desenvolvimento econômico e a mídia em um município. Um jornal é fundamental na democracia e no desenvolvimento de uma cidade. E uma cidade desenvolvida é fundamental na sobrevivência de um jornal. Uma coisa depende da outra.
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