Os desertos de notícias em Portugal atingem mais da metade dos municípios, seja em um deserto total, semi-deserto ou ameaçado com apenas um veículo. Este é o dado mais preocupante do “Desertos de Notícias Europa 2022: Relatório de Portugal”, publicado recentemente pelo Labcom da Universidade da Beira Interior.
O relatório foi feito dentro do projeto MediaTrust.Lab por três pessoas: o pesquisador português Pedro Jerónimo a estudante de doutoramento em Comunicação brasileira Luísa Torre e o autor deste blog. O mapeamento foi feito a partir de uma metodologia que classificou os desertos em três tipos. Deserto total, quando não há meios de comunicação, ameaçado, quando há apenas um e semi-deserto, quando há um meio, mas notícias frequentes.
O documento evidencia algo que os dois primeiros mapas dos desertos de notícias em Portugal já tinha apontado: o problema concentra-se distante do litoral. O deserto espalha-se também onde há menor concentração populacional e atividades econômicas, como Alentejo e Trás-os-Montes.
Segundo Pedro Jerónimo, o estudo é essencial para que políticas públicas e novas pesquisas sejam feitas sobre o tema, sobretudo no combate à desinformação:
Porque os espaços deixados vazios pelo jornalismo rapidamente são ocupados por outras realidades, menos ou mesmo nada comprometidas com a procura pela verdade, pela ética e a deontologia. Talvez por isso a Comissão Europeia esteja tão preocupada com o possível crescimento destes vazios e com eles a desinformação, afirma Jerónimo.
O mapeamento do Desertos de Notícias em Portugal surgiu em 2020 por iniciativa deste autor, como uma necessidade ter dados sobre a crise do jornalismo nos meios regionais. A princípio, tinha-se a ideia de levantar os dados e publicar como um artigo, para validar os dados a serem usados na tese de doutorado sobre jornalismo de proximidade em rede.
No entanto, o tema chamou a atenção de outros pesquisadores de Portugal e de autoridades da mídia no país. Então, o projeto Re/media.Lab (também do Labcom) apresentou o estudo em 2021 no Encontro Nacional de Jornalistas de Meios Regionais, organizado pelo projeto. A Associação Portuguesa de Imprensa também se interessou e promoveu eventos com o tema na agenda.
Por fim, entendeu-se que o estudo precisaria ser aprofundado e realizado de forma frequente. Então, o projeto MediaTrust incorporou a iniciativa que resultou na publicação deste relatório.
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