Um perfil de selo azul no X, o antigo Twitter, promove o seguinte post. Banco de Portugal processa Pedro Andersson pelo que disse ao vivo na TV. Com a postagem promovida (ou seja, paga), vem o link para um site chamado “vivertelheiras.pt”. Portanto, um assunto polêmico em Portugal, bom para viralizar. Pena que a postagem é um golpe. Um golpe com selo azul e promovido pela rede social.
Primeiramente, é preciso destacar que esse golpe não surgiu nos últimos dias. Trata-se de uma maracutaia com várias versões, que já foi destacada pelo jornalismo em Portugal e por outros sites. Aqui, o Observador explica que essa história do Banco de Portugal é fake. Nesta página sobre cibersegurança, há a explicação sobre o alerta de pishing. Viver Telheiras é um projeto de comunicação comunitária de um bairro de Lisboa. Eles nunca publicaram algo parecido com essa notícia.
Decidi escrever este artigo por causa da quantidade de vezes que vi este anúncio fraudulento no antigo Twitter. Foram mais de 20 em uma semana. Todos com perfis diferentes, mas todos com a conta Premium do X. Por ser um país de 10 milhões de habitantes (contra 200 milhões do Brasil) e o único na Europa a falar português, a quantidade de anunciantes nas redes sociais é bem menor. Por isso, é comum repetir os anúncios. Mas no caso deste golpe, a quantidade de anúncios chamou a atenção.
Eram sempre perfis diferentes. Primeiro, informava a rede social que não queria mais ver anúncios como esse. Depois, passei a bloquear os anunciantes, esses perfis falsos. Porém, o “anúncio/golpe” continuou aparecendo, com novos perfis, em uma frequência cada vez maior.
Quem paga?
Utilizei a opção do X “por que estou vendo este anúncio?”. A única informação que tive é que o anunciante procurava pessoas em Portugal com mais de 35 anos. Todos os perfis golpistas faziam o mesmo anúncio, obviamente. Portanto, não temos informações sobre quem paga esses anúncios. Só sabemos que o X aceita e não possui se quer uma opção para denunciar as postagens promovidas como golpes financeiros.
Afinal, a rede social aceita qualquer tipo de anunciante? Está liberado dar golpes usando a publicidade do X?
Selo azul, o fim de uma credibilidade
O selo azul foi criado pela rede social, quando ainda se chamava Twitter, para distinguir pessoas famosas dos usuários comuns. Portanto, era uma forma de dar credibilidade as postagens, pois ter o selo azul significava que aquele perfil era de alguém real e com algum renome.
Posteriormente, o Twitter foi comprado pelo empresário Elon Musk, que renomeou a rede social de X. Em uma estratégia para vender assinaturas, o X passou dar selo azul para qualquer um que subscrevesse a versão premium.
Apesar de hoje, o selo azul significar que trata-se de alguém que paga pelo X, o selo ainda remete a credibilidade, a nomes famosos. Pois é assim que outras redes sociais, como o Instagram, fazem. Hoje, o selos azuis são pessoas que pagam para espalhar suas ideias, vender coisas na rede social, independente de credibilidade ou fama. Virou, por exemplo, uma arma política.
A rede social tem um cadastro de quem subscreve o serviço premium. Portanto, ela tem (ou deveria ter) obrigação de combater quem usa as suas ferramentas para aplicar golpes.
Golpistas usarem o serviço de publicidade e serviço premium para aplicar golpes só mostra a necessidade de regular as plataformas de redes sociais. A publicidade excessiva deste golpe em Portugal revelou que, para as grandes plataformas, tudo é válido, desde que paguem para eles.