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10 de June de 2022

Controle de preços e as eleições de outubro

Você já viu alguém da Escola de Chicago defendendo controle de preços? Com uma inflação dos tempos anteriores ao Plano Real, o governo pediu para os empresários baixarem a margem de lucro e não aumentarem os preços nos próximos meses.

Nova tabela de preços só em 2023. Travem os preços. Vamos parar de aumentar os preços por uns dois, três meses. Nós estamos em uma hora decisiva para o Brasil.

Ministro da Economia Paulo Guedes

Um absurdo, mas no entanto, todo mundo riu. A esquerda fez piada, a direita liberal jogou na cara que o Guedes não é do liberalismo deles. Do mesmo modo, os ultraliberais riram da forma que o governo tenta lidar com a inflação. Mas eu não ri, não.

Controle de Preços de Paulo Guedes
Controle de Preços de Paulo Guedes. FOTO: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O que o governo brasileiro está dizendo para os empresários é: vamos derrotar o PT, façam um controle de preços até as eleições para fingir que vencemos a inflação. Depois vocês reajustam. Bolsonaro e Guedes pediram ajuda a classe empresarial para maquiar a economia até outubro. Vai dar certo? Eu tenho medo.

Um pequeno comerciante de bairro não possui condições de segurar os preços para ajudar o presidente. Um dono de uma grande rede de lojas de departamento sim. Os grandes empresários podem ajudar a fingir que a economia está melhorando até as eleições. Por que eles fariam isso? Porque a classe empresarial é o único segmento onde Bolsonaro vence Lula com folga.

Alguém pode me dizer: mas e depois disso? A situação não vai ficar ainda pior que eles fizerem um controle de preços agora? Sim, mas e daí? O importante para essa gente é ganhar as eleições, manter Bolsonaro +4 anos e impedir a volta do PT. Depois…depois o povo que pague a conta.

O controle de preços de FHC e Dilma

Maquiar as contas para fingir que está tudo bem não é novidade no Brasil. Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff fizeram isso em 1998 e 2014, quando disputaram a reeleição. O tucano seguro o câmbio, que estourou no ano seguinte. A petista segurou os reajustes de empresas públicas e cortes de gastsos, que vieram de uma vez só em 2015.

FHC e Dilma pagaram por essas medidas. O PSDB de FHC nunca mais ganhou uma eleição nacional, Dilma foi deposta. Mas ambos, tucanos e petistas, estavam dentro do jogo democrático, são partidos normais, com lideranças normais.

FHC e Dilma maquiaram para impedir uma crise, que já foi instalada em 2022: inflação, juros e desemprego em alta. Ou seja, Bolsonaro precisa maquiar MUITO MAIS para conseguir parecer que colocou a economia de volta nos trilhos. A maquiagem precisa ser muito maior.

Esqueçam os tanques

Muita gente teme um golpe militar depois de outubro, com a provável derrota de Bolsonaro nas urnas. Eu temo muito mais que Bolsonaro consiga vencer nas urnas. O exército brasileiro provou nos últimos anos não ter capacidade técnica para dar um golpe. Esqueçam os tanques nas ruas, pois 2022 não é 1964. O mundo é outro.

Agora, Bolsonaro vem deixando claro que é capaz de fazer qualquer coisa para tentar ganhar as eleições nas urnas. E ele chamou os empresários para ajudar a fingir que está tudo bem. Enganar a população, passar a impressão que as coisas estão melhorando. É isso que Bolsonaro e Guedes disseram essa semana.

O tal controle de preços não vai ocorrer como eles falaram, mas é um sinal que Bolsonaro fará qualquer maluquice para melhorar o cenário. E se isso acontecer, preparem-se para uma situação ainda pior a partir de 2023, quando a conta virá. Vamos falar menos de golpe de estado e mais de economia nessas eleições. É ali que mora o perigo…

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