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Journalism, media studies and some politics | ALL ARTICLES
14 de February de 2020

Quando a imprensa vai se unir em prol da sua existência?

Não é de hoje que o jornalismo brasileiro está sob ataque, principalmente de grupos políticos radicais que não aceitam conviver com a atividade jornalística. Poderia-se fazer uma lista de críticas aos órgãos de comunicação no país, mas o debate proposto aqui não é sobre os jornais e sim sobre os trabalhadores da informação. Quem está apanhando, sendo ameaçado é o jornalista e não o dono do jornal. Vejamos alguns casos:

Caso Patrícia Campos Mello

Na bizonha CPMI das Fake News em Brasília, o ex-funcionário da Yacows, uma empresa de marketing digital acusada de disparos em massa para candidatos nas eleições de 2018, Hans River do Rio Nascimento afirmou que a jornalista da Folha de São Paulo ofereceu sexo em troca de informações. A afirmação, obviamente desmentida com provas pela própria Folha, foi dita em um depoimento da CPMI. Nascimento cometeu um crime e ainda ganhou apoio de parlamentares como um dos filhos do presidente, além do próprio presidente.

CPMI das Fake News: novo campo de ataque a jornalistas. FOTO: Jane de Araújo/Agência Senado

Além de cometer o crime de fazer uma acusação falsa em depoimento, o depoente foi misógino. Vários jornalistas e a própria Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) escreveram em defesa de Patrícia. Um comentário feito por Mariliz Pereira Jorge no canal MyNews merece destaque. Ela fala sobre ataques misóginos a jornalistas no país:

Entrevistas no Alvorada

Eleito sem precisar participar da maioria dos debates em 2018 e sem precisar dar muitas entrevistas aos grandes meios de comunicação, o atual presidente costuma dar entrevistas improvisadas na saída do Palácio do Alvorada, onde reside. Sempre com uma claque de apoiadores para aplaudir qualquer coisa que disser, o presidente usa o espaço para atacar jornalistas quando perguntado sobre assuntos nos quais não pretende comentar. Xinga a mãe do repórter, insinua sobre sua sexualidade, entre outros desaforos.

Agressões físicas e mortes

Os casos acima envolvem grandes meios de comunicação no país e autoridades do mais alto escalão. Qualquer tipo de agressão nesses casos vira notícia com forte repercussão. Quando descemos para o dia-dia das cidades, os casos de agressão contra a imprensa pioram: segundo a Fenaj, 208 casos foram registrados em 2019. Em 2018, foram 135.

Dois jornalistas morreram assassinados, 20 foram agredidos fisicamente, 28 foram ameaçados ou intimidados. Os números, no entanto, refletem apenas os casos registrados pela Fenaj, podendo o total ser muito maior.

Tempos sombrios

O depoente na CPMI mentiu e ofendeu. Vai acontecer algo com ele? Duvido! O presidente ofende jornalistas “dia sim, dia não” no Alvorada e os meios continuam mandando repórteres para lá diariamente. No passado, o presidente do Vasco, Eurico Miranda, proibia jornalistas de cobrir o clube, perseguia alguns nomes específicos. Mas quando era de interesse do clube, ele fazia uma coletiva de imprensa e os jornais e TVs mandavam seus repórteres igual, ignorando as ameaças anteriores.

Não é novidade as agressões contra os profissionais de imprensa, sejam elas físicas ou verbais. A novidade é que vivemos em um período de desinformação, onde o ódio pelos jornalistas não é apenas de autoridades com dificuldades em lidar com a democracia. Essas autoridades possuem uma rede apoiadores fanáticos na internet, que diariamente perseguem aqueles que fazem qualquer tipo de crítica ao seu ídolo.

Quando um presidente ofende um jornalista, quando um deputado mente e persegue um profissional de um jornal, eles viram exemplos para quem está abaixo. Se lá em cima, em Brasília, é uma ofensa verbal, na sua cidade, no seu bairro, a agressão torna-se muito pior.

A união dos jornalistas é imprescindível nos dias atuais. É preciso agir, de fato, como uma classe, e cobrar os empresários do setor a serem mais incisivos. Não basta notas de repúdio, precisamos de ações mais concretas para coibir.

Repito: devemos separar as críticas aos órgãos de comunicação com a honra pessoal dos profissionais que atuam nela. Até porque, a maior parte destas críticas estão ligadas à linha editorial ou outras questões que envolvem a direção dessas empresas. O foco aqui é defender o elo mais fraco: o repórter.

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