
O Digital News Report de 2025 confirmou uma previsão já feita por estudiosos da comunicação desde a década passada. As plataformas de vídeos vão dominar as fontes de informação dos usuários. Os meios de comunicação tradicionais não possuem mais escolha: ou entram neste universo, ou ficarão ainda mais obsoletos.
Primeiramente, explica-se o digital Digital News Report. Trata-se de um relatório anual sobre consumo digital de notícias. O Instituto Reuters realiza ele desde 2012 e na edição de 2025 tivemos a participaçã ode 48 países, com mais de 1000 entrevistados. Em Portugal, o Obercom publica a versão portuguesa do relatório desde 2016.
LEIA O DIGITAL NEWS REPORT (INGLÊS)
Entre os destaques deste ano, o Digital News Report aponta a força das redes sociais e plataformas de vídeo como meios mais usados para consumo de notícias nos Estados Unidos. Mas isso não era óbvio? Não, porque nesta pesquisa, as notícias digitais nos sites estão em outra categoria. Nos EUA, as redes sociais nunca tinham ficado em primeiro. Por que conseguiram agora? Por causa dos vídeos.

O recorte de idade é uma obviedade. O relatório aponta que, quanto mais jovem, maior preferência por redes sociais e plataformas de vídeo. A TV lidera apenas entre os mais velhos.

Apesar de 54% dos entrevistados americanos terem dito que usaram redes sociais e plataformas de vídeo para notícias, apenas 34% apontam que esse é o principal meio de informação. E adivinha qual o país onde há mais entrevistados que colocam essas redes como principal?

E por último, quais são as plataformas e redes mais usadas para obter notícias? Na amostra internacional, o Facebook ainda é o primeiro e o YouTube teve uma ligeira queda. Porém, se você somar YouTube, TikTok e Instagram (cada vez mais focado em vídeos), temos 47% das preferências. O TikTok possui apenas 10%, mas cresce de forma constante.

Análise
Primeiramente, é preciso destacar que a análise abaixo é sobre EUA e, principalmente, o Brasil. A realidade de Portugal é MUITO DIFERENTE e merece um artigo específico. Resumidamente, podemos afirmar que o consumo de notícias em Portugal ainda é muito, mas muito mais tradicional.
Que o Brasil é o paraíso das redes sociais, a gente já sabia. Números anteriores já apontavam que o brasileiro gasta muito tempo nas redes, principalmente para entretenimento. Porém, cada vez mais, essas plataformas são usadas também para informação. E as plataformas de vídeo como YouTube, TikTok e Instagram são cada vez mais os MEIOS para informação.
Discordo da tese que este é mais um passo para o fim do jornalismo. Talvez, seja para o fim do jornalismo como conhecíamos até o começo deste século. As pessoas estão mais tempo na tela dos celulares e querem se informar por lá. Existem meios de comunicação, existem meios e jornalistas que uns confiam mais, outros que confiam menos. Porém, devemos ressaltar.
- Neste novo ecossistema digital, quem controla o jogo, cada vez mais, são as big techs. Saem os “Charles Kane”, entram os Zuckerberg.
- O jornalista, proletariado da informação, continua pequeno como sempre foi neste jogo de poder.
- A credibilidade e a confiança na informação será cada vez mais pessoal. Sai o jornal, entra a figura do jornalista.
- A linguagem, consequentemente, é mais informal. Os jornalistas se parecerão cada vez mais com os influencers.
- O que vai diferenciar, obviamente, será a qualidade da informação. A essência do jornalismo está no seu propósito, não na forma.
- Jornalista que tem nojinho do TikTok (e do que vier no futuro) e acha que essas redes só tem espaço para influenciadores e desinformação vai ficar para trás. Muito para trás.
- Haverão meios de comunicação sustentáveis que contratarão jornalistas e ganharão dinheiro com isso.
Adaptar é preciso
Em 2012, durante um congresso da Associação de Jornais do Interior de Santa Catarina (AdjoriSC), a então diretora da RBS Marta Gleich apresentou o lema do jornal Zero Hora da época: Papel. Digital. O que vier. Foco no “que vier”. Durante a palestra, Marta reforçou que jornais vendem notícias e não papel. Que os jornais deveriam saber fazer e vender as notícias aonde o seu público estivesse.
Talvez, alguns jornais acharam que uma mera transição para o digital era suficiente. A transformação é contínua, eterna. Devemos pensar em um jornalismo adaptado aos dias atuais. Em outro artigo, escrito há um ano, eu já comentava que o Brasil está fazendo isso, criando um “jornalismo de youtube“, bem diferente do audiovisual tradicional.
Além do jornalismo de YouTutube, precisamos seriamente pensarmos no que seria o jornalismo no tiktok. E isso, obviamente, não se limita a cortar vídeos que os meios fazem para o YouTube. É preciso fazer algo nativo para a plataforma. É preciso pensar em modelos de negócios e regulações que não deixem os donos das Big Techs com todo o poder do mundo. Mas chega de negar a realidade.
A comunicação de massa dos próximos anos é audiovisual, móvel, rápida. Isso significa que os outros vão morrer? Nada! Até jornal em papel em acredito que ainda vá existir. Mas longe do mainstream, longe das massas.