Um dos maiores jornais portugueses está com acesso livre para as notícias em sua versão digital desde quarta-feira (11). Primeiramente, o jornal Público havia derrubado o caráter de premium para todas as notícias relacionadas ao coronavirús. Depois, decidiu desativar o paywall poroso, que limita o acesso gratuito a um número de leituras mensais.
O Público não informou quando pretende retomar o paywall. Até lá, todas as notícias estão abertas em um momento em que a Organização Mundial de Saúde decretou que o coronavírus é uma pandemia global. Até a publicação deste artigo, 59 casos já tinham sido registrados em Portugal.
A atitude do Público merece não apenas elogios, mas abre também um bom debate sobre o direito a informação de qualidade em tempos de fake news. Em um momento em que todos querem informações sobre a pandemia e brotam milhares de fake news e desinformação sobre a doença no mundo, é importante que todos tenham acesso a uma notícia correta e de qualidade, certo? E nos outros momentos?
Jornalismo a disposição de quem?
O jornalismo tem uma origem nada popular. Sempre foi um instrumento da burguesia, sempre foi algo caro, para acesso de poucos. O surgimento do rádio e da televisão ajudaram a popularizar a comunicação social e somente depois de ambos estarem estabelecidos foram desenvolvidos os primeiros jornais populares, de olho nas classes C e D.
Jornalismo popular que não deve ser sinônimo de má qualidade. Porém, o apelo pela audiência fez com que muitos populares deixassem de existir ou optassem por uma linha editorial irresponsável e sensacionalista. Ainda sim, existiam os jornais populares produzidos por profissionais interessados em levar informação de qualidade ao público menos favorecido economicamente.
Internet muda cenário
Com a internet comercial a partir de 1995 (Brasil e Portugal), a possibilidade de qualquer pessoa produzir conteúdo e ter audiência ajuda a democratizar a informação por um lado, mas gerou uma elitização ainda mais perigosa.
Todos estão na internet, bombardeados diariamente com milhões de informações, a maioria desinformação (boatos, fake news, infos fora de contexto) e para ter uma informação de qualidade é preciso QUASE sempre pagar. São poucos os projetos jornalísticos bons que não cobram algum tipo de assinatura e o modelo de paywall continua em franco crescimento.
Os jornais fecham seus conteúdos porque precisam sustentar o negócio, já que a publicidade não paga mais como antes. Mas como ficam as classes C e D? Como ficam aqueles que não possuem condições de pagar com notícias na internet? Eles não vão esperar a notícia sair na TV, nem todos vão ao rádio.
Informação é um direito?
A informação é um direito do cidadão? Se é um direito, porque ele tem que pagar com ela? Se simplesmente aceitarmos que os mais ricos pagam para ter acesso aos bons conteúdos e os mais pobres que se virem nas gratuitas, estamos a jogar a maioria das populações no colo das fake news e da desinformação.
A atitude do jornal Público merece aplausos. A quantidade de fake news e desinformação sobre o coronavírus é imensa. Mas e depois?