A vacina deve ser obrigatória no Brasil? Qual vacina devemos tomar, a produzida pela Oxford/Astrazeneca/FioCruz ou da Sinovac/Butantan? Essas perguntas parecem ser estúpidas e, de fato, são. Porém, a imprensa brasileira anda alimentando elas numa falsa polêmica que só interessa a dois agentes políticos: Jair Bolsonaro e João Dória.
A saudável e benéfica disputa entre Sinovac e Astrazeneca na corrida da vacina tornou-se tóxica no Brasil por motivos eleitorais. João Dória, governador de São Paulo e já pré-candidato a presidente em 2022 aposta na vacina da Sinovac em parceria com instituto paulista Butantan para alavancar sua campanha.
Dória quer se tornar o salvador da pátria no Brasil, o responsável por trazer a vacina que vai acabar com a pandemia e para isso já agiu de forma irresponsável por diversas vezes, anunciando datas para início da vacinação. Ainda é impossível afirmar quando elas estarão prontas.
O governador colocou a vacina nas eleições e Bolsonaro vem respondendo da pior forma possível. Primeiro buscando desqualificar a vacina que seu adversário quer disponibilizar. Sua claque nas redes sociais está em campanha permanente contra a Coronavac, como foi batizada a vacina chinesa.
Os argumentos dos bolsonaristas é que a vacina vem da China e ainda não tem comprovação científica. Ora, o Brasil é um grande parceiro comercial da China, inclusive na gestão Bolsonaro. E quanto a comprovação científica, este é um argumento fake. Não há nenhum interesse de nenhuma autoridade (exceto Putin na Rússia) de vacinação em massa antes das comprovações científicas. O que está sendo feito são pré-contratos e contratos para aquisição após a comprovação.
A União Europeia, por exemplo, já encomendou mais de 300 milhões de doses da vacina de Oxford, mas isso se for comprovada a eficácia. Quem defendeu medidas sem comprovação científica foram o governo e sua claque com a Cloroquina. O remédio para outras doenças que nunca teve sua eficácia para a Covid-19 comprovada, pelo contrário.
Pazuello e a imprensa
O ministro da Saúde fez o que qualquer pessoa no cargo deveria fazer: negociar com os laboratórios de todas as vacinas mais avançadas. Já tem um acerto com Oxford/Astrazeneca via FioCruz e negociava com São Paulo para ter também um acordo com Sinovac/Butantan.
Mas aí as eleições de 2022 entraram novamente em cena e o presidente, instigado pela sua claque, revoltada nas redes sociais, desautorizou o ministro e anunciou que o governo federal não comprará esta vacina. Os argumentos fakes da China e da falta de comprovação foram usados novamente.
Dória sentiu que o momento era bom e foi para cima. Publicou o vídeo da reunião com o ministro da Saúde e posou-se de estadista preocupado com a saúde pública brasileira. Políticos de oposição entraram no coro e politizaram ainda mais a discussão.
A imprensa e os fatos
Não foram poucos os meios de comunicação que passaram a levantar a polêmica da vacina. Se ela deve ser obrigatória, como pede João Dória, ou não, como diz o presidente. Se a vacina é da China ou da Inglaterra.
Vamos aos fatos: o governo não pode enfiar a vacina contra a Covid-19 goela abaixo da população, mas pode obrigar com regras como vacina obrigatória para matrícula em escolas, universidades, em viagens de avião ou até mesmo empresas podem exigir dos funcionários.
As pesquisas mostram o óbvio: a maioria da população quer ser vacinada e com 70% de imunizados, dizem os especialistas, a pandemia acaba.
Portanto, não existe polêmica sobre as vacinas. Na atual situação, o que podemos fazer é esperar elas ficarem prontas e tomar medidas preventivas contra a doença. Discutir formas de distanciamento social sem que seja preciso um novo lockdown deveria ser o debate. É o que a imprensa e a sociedade devem cobrar das autoridades.
Ao transformar as capas de jornais num “Grande Debate” da CNN, que de debate não tem nada, a imprensa apenas contribui para a promoção de Jair Bolsonaro e João Dória para 2022.