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Felipe Neto no ICL e o jornalismo no YouTube

O jornalismo no YouTube foi movimentado na última terça-feira, 23 de julho. O influenciador digital Felipe Neto é o novo sócio do ICL, uma plataforma digital com conteúdo jornalístico de viés progressista. A entrada do novo sócio aponta o caminho do mercado de jornalismo audiovisual digital no Brasil. Um jornalismo de youtube próprio, mais próximo do rádio do que da televisão convencional.

O canal do ICL e concorrentes como UOL e Jovem Pan News evidenciam uma cara do jornalismo de YouTube no Brasil. Isto é, telejornais sem reportagens clássicas de TV, um grande espaço para opinião, jornalistas fazendo inserção ao vivo de casa. E claro, programas diretos, sem aquele espaço tradicional da publicidade.

Felipe Neto e o ICL Notícias

Imagem: reprodução ICL Notícias

O carioca Felipe Neto foi um dos primeiros vloggers famosos no Brasil, com o canal Não Faz Sentido, aberto no YouTube em 2010. Primeiramente, ele foi crítico dos governos do PT (década passada). Posteriormente, se tornou um crítico feroz e um dos alvos do bolsonarismo ente 2019 e 2022. Com o reposicionamento no espectro político brasileiro, com direito a pedido de desculpas para Dilma Rousseff, tornou-se um comunicador importante no meio progressista.

Já o Instituto Conhecimento Liberta foi criado em 2020 pelo empresário Eduardo Moreira e pelo sociólogo Jessé Souza, como uma plataforma de cursos online. Em 2022, O ICL lançou seu braço midiático no YouTube, o ICL Notícias. Em seguida, o instituto lançou um portal de notícias.

O ICL Notícias cresceu no YouTube, tornando-se líder de audiência no segmento (jornalismo no YouTube) no horário da manhã. Por que o sucesso? Porque é um jornal com viés de esquerda/progressista profissional e não panfletário, isto é, sem ser um órgão de propaganda do atual governo. E também porque contratou um time de profissionais gabaritados, como Heloísa Vilela, Chico Pinheiro e Leandro Demori.

Como o jornalismo no YouTube surgiu

O jornalismo para o YouTube não foi inventado nesta década, contudo, nos últimos anos, os investimentos aumentaram neste segmento. Primeiramente, os grandes meios de comunicação preferiram fazer apenas vídeos curtos na plataforma. Se não eram curtos, eram projetos de menor periodicidade, caso da TV Folha, de 2009. Além disso, um conteúdo pouco ao vivo. A mídia alternativa é quem investia mais em programas mais longos, obviamente, com menos estrutura e menor alcance.

Em 2018, a jornalista Mara Luquet se uniu ao Antônio Tabet (Porta dos Fundos, Desimpedidos, Canal GOAT) para lançar o MyNews. Um projeto jornalístico focado no YouTube, com programação diária ao vivo: notícias, entrevistas e muitos debates. O My News não foi o primeiro, porém, foi fundamental por ser um canal com muito profissionalismo e qualidade, sem parecer uma TV tradicional.

Os grandes meios de comunicação também começaram a investir mais no YouTube, principalmente com o avanço de uma internet mais rápida no Brasil. Porém, destaca-se o UOL, que fez do seu canal no YouTube algo parecido com que tinha feito o My News, mas em escala maior.

O UOL não entrou no jornalismo audiovisual digital ontem. Ainda em 2000, a empresa lançou o UOL News, com Paulo Henrique Amorim. Para se ter uma noção, esse programa é anterior ao próprio YouTube. Mas nos últimos anos, a empresa transformou seu canal em quase uma TV, com diversos programas diários ao vivo. Os programas do UOL Esporte são quase uma reedição dos programas da ESPN Brasil das antigas.

Rádios no YouTube

Algumas pessoas que leem este blog devem estar se perguntando: porque citar a Jovem Pan? Eu fiz uma crítica ao conteúdo da rádio em 2022, sobre jornalismo e entretenimento político. Porém, é inegável a importância da emissora na popularização das rádios no YouTube.

A Jovem Pan começou a investir sério em rádios audiovisuais há uma década. E fez na hora certa, pois isto é uma tendência em vários países. A Pan não apenas colocou câmeras nos seus estúdios, eles adaptaram os estúdios e o próprio conteúdo de olho nos telespectadores do YouTube.

A aposta deu certo e por muito tempo a Pan liderou sozinho a programação jornalística ao vivo nas manhãs do YouTube. Hoje, há um concorrente: o ICL Notícias. Quando os diretores da rádio criaram uma TV, essa emissora, mesmo que na TV fechada, ficou com cara de rádio, melhor, rádio para a internet.

Características do jornalismo no YouTube

O UOL é o maior portal em língua não inglesa do mundo, com opiniões plurais. O ICL Notícias um veículo alternativo e de esquerda. A Jovem Pan uma rádio com forte presença digital, de direita. Apesar das diferenças, eles trazem coisas em comum em sua programação:

  • Horário: semelhante ao rádio, com mais força no período da manhã, apesar de boa audiência no período da noite.
  • Poucas reportagens: aquelas reportagens gravadas, de televisão, com 1, 2 minutos. Por outro lado, as notas cobertas são muito frequentes e acabam durando mais tempo, pois são seguidas de um comentário.
  • Muita opinião: a presença de comentaristas é comum no telejornalismo americano. Em alguns telejornais portugueses, também, mas nunca foi moda na TV brasileira. No YouTube, o espaço chega a ser maior que o da notícia.
  • Informalidade: Conversas informais entre apresentador/es com comentaristas. Alguns comentaristas apresentam de forma remota, de casa, sem muita produção.

É possível afirmar que este jornalismo de youtube está mais próximo das rádios do que do jornalismo televisivo. Trata-se de um conteúdo que pode ser apreciado apenas ouvindo, mesmo com todo o investimento em audiovisual. A informalidade, o horário, o grande espaço para opinião, tudo isso converge mais para o jornalismo de rádio e um pouco para a TV fechada, que também possui algumas características em comum.

Há um outro tipo de jornalismo de YouTube, onde a BBC News Brasil é forte. Foco em reportagens, ausência de programas, pouco uso do ao vivo, e muitas reportagens com caráter lúdico. Mas isso é tema para outro artigo.

Giovanni Ramos

Jornalista, consultor de comunicação, investigador de media regionais.

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