Financiamentos coletivos, paywalls, doações de entidades, produtos inovadores palavras-chave comuns quando o tema é sustentabilidade da mídia. Estudos apontam a necessidade do jornalismo se reinventar, principalmente os meios locais, os mais afetados pelas transformações do século XXI. Porém, a realidade é cruel e um novo relatório internacional confirma o cenário sombrio. Os meios locais são os últimos em um ranking de sustentabilidade da mídia.
Foram 450 projetos jornalísticos analisados no mundo inteiro no relatório Sustainability Insights. A avaliação da sustentabilidade possui uma pontuação que vai de 0 a 100. Os projetos hiperlocais ficaram em último lugar, com 57 pontos, seguido dos locais com 59 e dos regionais com 72. Os mais sustentáveis, de acordo com o projeto, são os internacionais com 71 pontos.
Outro resultado do estudo ajuda a explicar porque os meios de proximidade são os que mais sofrem: conglomerados de mídia estão na frente dos independentes e dos sem fins lucrativos.
A sustentabilidade da mídia por continentes
De acordo com o relatório, a Europa é o continente onde a diferença dos jornais de proximidade para os nacionais e internacionais é mais evidente. Diferente da América Latina, onde estão todos com problemas, na Europa a situação é grave na mídia local:
Os editores europeus locais e hiperlocais precisam de apoio para continuar a sua transformação digital. Este segmento do mercado está sendo deixado para trás por editoras internacionais e nacionais de alto desempenho. Precisam de apoio no desenvolvimento de uma infra-estrutura tecnológica sólida, na monitorização e previsão de custos, na continuação do crescimento das receitas digitais e na construção de relações directas com os seus públicos.
Sustainability Insights, p. 27
E qual o principal desafio para o jornalismo local na Europa? A transição para o digital. Primeiramente, é preciso lembrar aqui que os jornais do interior de países como Portugal possuem muitas dificuldades para fazer esta transição. Porém, no relatório, entre todos os jornais europeus pesquisados (incluindo nacionais e internacionais), a expectativa é que em 2025, as receitas digitais (publicidade e vinda dos leitores) somem 62,8% das receitas. Estamos falando de um dinheiro que a maioria dos jornais locais pouco tem acesso.
Outro estudo, do pesquisador britânico Dave Toomer, mostra que as iniciativas hiperlocais no Reino Unido funcionam bem para fazer a cobertura da política das comunidades…dos círculos eleitorais mais ricos. As regiões mais pobres do país possuem pouca produção de conteúdo jornalístico hiperlocal.
O estudo de Toomer aponta que as iniciativas hiperlocais, sobretudo sem fins lucrativos, precisam de apoio, de dinheiro, para se sustentar. O relatório do News Sustainability Project corrobora com este apontamento. Jornalismo local, hiperlocal, regional, não importa o termo e a delimitação geográfica, mas toda essa imprensa de proximidade PRECISA SER AJUDADA EXTERNAMENTE. Sozinhos, eles não vão a lugar algum.
Outro ponto interessante é que os conglomerados de mídia são mais sustentáveis. E os pequenos, não podem se juntar? Bom, isto é conversa para outro dia…
Diagnostique seu meio de comunicação
Vale muito a pena visitar a página do News Sustainability Project, responsável pelo relatório. Trata-se de um projeto que une Google, a INMA (International News Media Association) e a FT Strategies, pertencente ao grupo do jornal Financial Times.
Eles possuem um serviço de diagnóstico da sustentabildiade dos projetos jornalísticos. Você coloca os dados de uma empresa jornalística e ele faz um relatório com pontuação de 0 a 100 sobre a sustentabilidade do projeto em diversas áreas. Com sugestões e encaminhamentos para melhorias.